Nesta quarta-feira (29) a solicitação formal do Brasil para entrar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) completou dois anos. Desde então o sinal mais positivo de avanço dessa candidatura aconteceu no dia 17 de maio, quando os EUA oficialmente anunciaram apoio à entrada brasileira no órgão multilateral.
A entrada do Brasil na OCDE, porém, traria restrições ao país e seria motivada principalmente pela busca de um "status político". É o que afirma Maria Beatriz de Albuquerque David, professora de Economia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em entrevista à Sputnik Brasil.
A economista explica que o Brasil, apesar de ser uma das maiores economias do mundo, observado o Produto Interno Bruto (PIB), não tem tanta participação no comércio exterior.
Albuquerque afirma que o Brasil tem hoje 10% de participação no PIB interno derivado do comércio exterior e que representa 2% do mercado mundial.
"[A entrada na OCDE] é uma busca de dizer 'ah, nós somos a 8ª economia do mundo'. Nós somos a 8ª economia do mundo em termo de PIB, mas nós não somos a 8ª economia do mundo em termos de transações internacionais e importância no mercado internacional ou mesmo em inserção nas cadeias produtivas globais", aponta a economista.
A professora também explica que a participação da economia brasileira no mundo é menor em relação aos produtos de valor agregado.
"Nós estamos marginalizados nas cadeias com maior valor agregado, nós estamos mais na rama da parte de baixo da pirâmide — commodities, entre eles a extração mineral", diz.
Portanto, para a economista a presença na OCDE seria uma forma de ganhar um status de economia desenvolvida, mas sem ter os indicadores para isso.
"É como se você mesmo sem ser rico se considerar rico. Porque o rico aí só se a gente tomar o PIB [como parâmetro], mas o PIB não é o único indicador de riqueza", explica a professora.
Maria Beatriz Albuquerque também ressalta que há economias na OCDE muito menores do que a brasileiras, o que mostra que a forma como a economia se insere no mundo tem mais relevância no bloco.
Segundo o ministro da Casa Civil brasileiro, Onyx Lorenzoni, o Brasil deve levar ainda três anos para ser aceito na organização. Para Albuquerque, no entanto, esse é prazo muito curto.
"Três anos ele está sendo otimista. Eu não conheço… nem México, nem Chile, os países com mais ou menos o mesmo desenvolvimento que o nosso não foram incluídos tão rapidamente, levaram um período bem maior do que isso. A média é de mais do que cinco anos", diz a economista.
Segundo a economista, as reformas que o governo tenta aprovar seriam apenas o começo em uma perspectiva de aumento da relevância econômica brasileira e resolução de problemas internos.
"Isso [as reformas] é somente um primeiro caminho. Nós temos problemas de baixíssima produtividade, temos problemas de qualificação da mão de obra… o que têm muito pouco a ver com as reformas. As reformas têm muito mais a ver com o equilíbrio das contas públicas — que é um pressuposto importante — mas não é só isso", aponta.
"Essa visão de que passa uma, duas reformas e a gente vira transatlântico, a gente vira último modelo de Boeing é também uma previsão otimista", acrescenta.
A economista ainda explica que o apoio dos EUA, reforçado também pelo apoio anterior do Reino Unido, não seriam o suficiente para que o Brasil garanta o ingresso na OCDE.
"São condições objetivas. O apoio é um sustentáculo político. É dizer 'olha, eu quero que você venha, mas você vai fazer sua parte?'", conclui Albuquerque.