Por que aliados mais próximos dos EUA estão tentando minar hegemonia do dólar?

Nos últimos tempos, há cada vez mais evidências de que os aliados mais próximos dos EUA estão tentando enfraquecer a hegemonia do dólar. Em seu artigo para o jornal Washington Post, o analista Fareed Zakaria explicou o que está por trás da decisão de diferentes países, incluindo a França e a Alemanha, de minar a posição da divisa estadunidense.
Sputnik

Fareed Zakaria lembrou que, na semana passada, Heiko Mass, ministro das Relações Exteriores da Alemanha, país que é um dos aliados mais próximos dos EUA, foi ao Irã e declarou que em breve será criado um sistema de pagamentos europeus como alternativa ao sistema baseado no dólar.

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A visita foi realizada junto com o Reino Unido e a França, que também contribuem para a criação do mecanismo, conhecido como INSTEX (Instrumento de Apoio ao Comércio de Trocas) – mecanismo para transações bilaterais com o Irã que permite contornar as sanções dos EUA, reimpostas com a saída unilateral de Washington do acordo nuclear iraniano.

Embora seja difícil pôr fim ao domínio do dólar nas transações globais, que traz enormes benefícios aos EUA, a criação do INSTEX representa um sinal de alerta, é uma espécie de prenúncio da catástrofe iminente: os aliados dos EUA estão tentando minar o pilar fundamental do poderio global dos EUA.

Segundo o analista, isso está ocorrendo porque Washington abusa desse poderio. Embora os EUA continuem superando todo o mundo do ponto de vista econômico, atualmente decorrem mudanças estruturais profundas que estão minando seu estatuto, por exemplo, o desenvolvimento da China. Além disso, há outros processos que representam uma resposta ao abuso da hegemonia de poder por parte dos EUA.

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Zakaria sublinhou que a Alemanha, a França e o Reino Unido são signatários do Plano Conjunto de Ação Integral (JCPOA) de 2015, conhecido como acordo nuclear iraniano. Ao decidir abandonar unilateralmente o acordo no ano passado – apesar de Teerã ter cumprido seus compromissos – os EUA reintroduziram as sanções contra Teerã usando o poder do dólar, para impedir que outros países façam negócios com o Irã, porque a maioria das transações internacionais são realizadas em dólares. De fato, esse abuso de autoridade fez com que os europeus tivessem decidido criar seu próprio sistema de pagamentos.

Além dos países europeus, outros países como a Rússia, China e Índia querem criar seus próprios mecanismos de pagamento para evitar recorrer ao dólar, enfatizou o analista.

Mais um exemplo do abuso de poder por parte de Washington é a introdução de tarifas sobre as exportações aos EUA sob o pretexto da segurança nacional.

O autor do artigo sublinha que os EUA continuam ocupando uma posição única na arena global. Entretanto, há cada vez indícios de que o mundo está se tornando cada vez mais multipolar.

"A administração [dos EUA] está agindo para atingir alguns ganhos de curto prazo ao limitar as transações com outros países. Mas, abusando de seu poder para fazer isso, ela põe em risco a estrutura do sistema internacional no qual o poder dos EUA está profundamente enraizado. É um mau negócio pelo qual todos os americanos vão pagar um preço nas próximas décadas", concluiu Zakaria.

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