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Como guerra comercial sino-americana pode favorecer exportações de fertilizantes russos ao Brasil

Os fertilizantes são responsáveis por uma cota-parte substancial do comércio bilateral entre a Rússia e o Brasil.
Sputnik

Andrei Guriev, o diretor-geral da empresa russa PhosAgro, uma das maiores produtoras globais de fertilizantes, revelou à Sputnik Brasil porque a América Latina é um dos mercados principais para sua empresa e como a guerra comercial sino-estadunidense desencadeada por Washington pode favorecer a cooperação russo-brasileira nesse segmento do mercado.

Mercado promissor

Segundo Guriev, o consumo de fertilizantes na América Latina está crescendo a um ritmo sustentável – nos últimos cinco anos esse consumo na região tem uma taxa média de crescimento de 4%, enquanto a taxa de crescimento global no mesmo período não supera 1,5%. Os países da América Latina são responsáveis por 13% do consumo global de fertilizantes.

"A nossa empresa considera os países da América Latina como um dos mercados principais, junto com o russo, que tem prioridade estratégica. Em 2018, as vendas dos nossos fertilizantes na região aumentaram 23,8% em comparação com o ano anterior, atingindo dois milhões de toneladas", explicou Guriev à Sputnik Brasil.

O empresário sublinha que o Brasil continua sendo o maior importador dos fertilizantes produzidas pela PhosAgro, sendo responsável por 19% de todas as exportações da empresa. Além disso, 10% de todas as importações de fertilizantes brasileiras e 15% das argentinas foram produzidas pela PhosAgro.

Um dos fatores que contribui para o aumento das exportações da empresa para a região é a abolição da taxa de importação discriminatória do fosfato de diamônio de alta qualidade no Brasil e na Argentina (até 2015 no Brasil e até 2017 na Argentina, as tarifas sobre esse fertilizante de produção russa era de 6%).

Mudanças causadas pela guerra comercial

Outro fator que pode conduzir para um novo nível a cooperação da empresa russa com parceiros latino-americanos é o conflito comercial sino-estadunidense.

"As consequências mais evidentes da guerra comercial entre a China e os EUA se observam no exemplo da transformação que está vivendo o mercado mundial de soja. A China é o maior importador de soja no mundo, suas compras atingem 87 milhões de toneladas por ano. Tradicionalmente, os EUA e o Brasil, os dois maiores exportadores de soja, foram responsáveis pela maioria dessas importações", revelou Guriev.

Entretanto, as exportações americanas de soja para a China se reduziram bruscamente após, em abril de 2018, a China ter introduzido tarifas de 25% sobre a soja americana em resposta à introdução das tarifas sobre produtos chineses por parte de Washington, o que, de fato, marcou o início da guerra comercial atual.

"Como resultado, de setembro de 2018 a maio de 2019, os fazendeiros estadunidenses exportaram à China apenas 5,9 milhões de toneladas de soja, 80% menos que o volume de fornecimento médio nos últimos três anos, quando as exportações no mesmo período atingiam 29 milhões de toneladas", afirmou o empresário russo.

Oportunidades tanto para o Brasil, como para a Rússia

Ao mesmo tempo, em meio a esse conflito entre Pequim e Washington, o Brasil pode aumentar significativamente suas exportações de soja à China, enquanto a empresa russa poderia acelerar o fornecimento de fertilizantes para o país latino-americano.

"A queda das importações chinesas da soja americana é substituída, entre outras, pelas importações do Brasil, que têm potencial para crescimento. Na sequência do aumento da demanda por soja brasileira, é provável a continuação do aumento do preço da soja brasileira, o que, por sua vez, facilitaria o acesso a fertilizantes para os produtores brasileiros e levaria ao aumento da demanda por eles. A PhosAgro, sendo um dos líderes na produção de fertilizantes altamente eficazes, está pronta para satisfazer essa demanda", sublinhou Guriev.

Em 2018, o Brasil registou um recorde na comercialização de soja para o exterior. O número recorde foi atingido porque, em meio à guerra de tarifas entre chineses e americanos, a China decidiu diminuir a compra de soja americana e foi em busca de outros mercados. Os fertilizantes são tradicionalmente um dos principais produtos que compõem as exportações russas ao Brasil.

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