O Mercosul e a União Europeia (UE) celebraram nesta sexta-feira um acordo comercial, que vinha sendo negociado há 20 anos. A longa espera finalmente terminou e a imprensa dos dois lados do Atlântico comemora de forma efusiva o documento que, alguns meses atrás, parecia impossível para maioria dos especialistas da área de comércio e de relações internacionais.
Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM/SP), conversou com Sputnik Brasil sobre o tema e declarou que a euforia relativa à assinatura do documento precisa ser analisada melhor.
Para ele, a indústria brasileira pode sofrer grande pressão com a nova disposição econômica, proposta pelo acordo entre Mercosul e União Europeia.
"Em termos práticos, a adesão para a indústria automotiva à abertura de tarifa zero para entrada de automóveis europeus no Brasil, que era de 15 anos, passou para 10 anos, e caiu o período de carência de 5 anos. Na prática, nos vamos sofrer uma concorrência brutal", alertou o especialista.
Segundo ele, a indústria nacional não estaria preparada para concorrer com os produtos europeus.
"Precisamos de um pouco mais de calma para comemorar ou chorar em cima desse acordo".
Além disso, Trevisan acrescentou que o Brasil pode vir a receber muitas mercadorias feitas na Ásia com o "carimbo" de produto europeu, o que, segundo o professor, é possível, considerando as formulações do acordo.
No entanto, alega Trevisan, a grande incógnita e risco para o Brasil reside nos acertos relativos à produção agrícola.
"Qualquer problema fitossanitário, ou qualquer problema de origem ambiental, aquele produto fica por meses barrado de entrar. Essa clausula de precaução já atingiu a soja brasileira em diferentes situações", explicou o interlocutor da Sputnik Brasil.
De todo modo, o docente da ESPM lembrou que o acordo ainda precisa ser ratificado por todos os estados da UE para entrar em vigor. "Esse processo será longo, e não há previsibilidade de que ele será como é hoje", ponderou o professor.
"Precisamos ter um pouco mais de calma, quando falamos da assinatura imediata desse acordo", concluiu.