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Homenagem do Exército brasileiro a oficial condecorado por Hitler é afronta a FEB, diz especialista

O Exército brasileiro homenageou nesta segunda-feira (1º) o major alemão Eduard Ernest Thilo Otto Maximilian von Westernhagen (1923-1968), que durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) defendeu o Exército nazista.
Sputnik

A homenagem publicada juntamente com um texto no site oficial do Exército brasileiro diz que ele foi homenageado como aluno da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército do Brasil.

No texto, Otto é classificado como "um sobrevivente da 2ª Guerra Mundial e das prisões totalitárias soviéticas, cuja vida foi encurtada por um ato terrorista insano e covarde".

No dia 1º de julho de 1968, há exatos 51 anos, Otto foi assassinado a tiros no Rio de Janeiro pelo grupo radical de esquerda Colina (Comando de Libertação Nacional), enquanto participava de um intercâmbio promovido pelo Exército brasileiro.

No entanto, sua morte foi um engano. Otto foi confundido com o capitão boliviano Gary Prado, que em 1967 havia participado da captura do líder comunista Che Guevara (1928-1967).

Homenagem do Exército brasileiro a oficial condecorado por Hitler é afronta a FEB, diz especialista

Uma noticia da época publicada pelo jornal Folha de S.Paulo disse que "a vítima fora condecorada por Hitler quando da ocupação da França e recebera graves ferimentos quando do ataque do Exército soviético a Berlim. Terminada a guerra, permaneceu no Exército alemão, devido às suas qualidades de perito em artilharia".

Em entrevista à Sputnik Brasil, Vinicius Ramos, historiador e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), diz que a homenagem do Exército Brasileiro a um oficial que atuou para as forças nazistas é uma afronta aos soldados brasileiros que lutaram na Segunda Guerra.

"Para mim essa posição do Exército é uma afronta a principal força que foi enviada aqui da América do Sul, que foi a Força Expedicionária Brasileira (FEB), uma vez que os nossos pracinhas se deslocaram em direção a Europa para lutar contra o nazismo. A posição do Exército hoje é totalmente contrária ao esforço de guerra que foi feito por milhares de brasileiros que abandonaram suas famílias na luta contra a ditadura nazista", disse.

Cerca de 25 mil pracinhas brasileiros desembarcaram na Itália, o país terminou com um saldo de 443 militares mortos e cerca de 3.000 feridos.

"O major era um homem do alto oficialato, isso significa que sem dúvida nenhuma ele tinha alguma afinidade com a ideologia nazista porque naquele momento não era possível dentro do Reich se pensar em promover um sujeito, ele foi homenageado pelo Hitler, não se pode pensar em uma homenagem feita pelo Fuher sem que o sujeito tivesse afinidade com a ideologia", afirmou Ramos.

A Segunda Guerra Mundial deixou um saldo de 70 milhões de pessoas mortas, entre civis e militares.

Para Vinicius Ramos, a homenagem a Otto é uma sinalização do Exército para sua militância que apoia o regime militar que ocorreu no Brasil entre 1964 e 1985.

"É claramente uma tentativa do Exército em tentar rememorar alguma coisa para a sua militância, a militância mais a direita, porque não foi a toa que foi escolhido justamente o major que foi assassinado durante o período da ditadura por um movimento radical", destacou.

Vinicius Ramos também chama a atenção para o fato do Exército brasileiro também ter escolhido homenagear um oficial do Exército que perdeu a guerra, ao invés de homenagear combatentes responsáveis pela derrota do nazismo, como o Exército da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

"Mais de 80% do esforço de guerra para a vitória dos aliados foi feito pelo Exército Vermelho, foi feita pelo povo da União Soviética, o brilhantismo destacado desses soldados alemães ele me parece muito mais um brilhantismo que não se enquadra na realidade. O brilhantismo tem que ser destacado pelo Exército que venceu a guerra e livrou o mundo do nazismo", completou.

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