Nos últimos dias, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelou um aumento de 60% no desmatamento na Amazônia brasileira em comparação com o mesmo período do ano passado. Ao todo, foram perdidos 762 quilômetros quadrados de floresta, pior resultado para o mês desde 2016.
Desde antes de assumir o cargo, o presidente Jair Bolsonaro vem sendo alvo de fortes críticas devido a sua atitude polêmica no que diz respeito à agenda ambiental. Ativistas, ambientalistas e autoridades nacionais e estrangeiras temem que seu governo reduza os dispositivos de proteção do meio ambiente e acelere o processo de devastação na Amazônia e em outras áreas do Brasil, levando a efeitos catastróficos para todo o mundo.
Por conta desse cenário de desconfiança, o chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, exigiu garantias do governo brasileiro quanto à questão ambiental para levar adiante um aguardado acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, bloco do qual o Brasil faz parte. Embora o documento tenha sido assinado no final do mês passado após promessas da parte brasileira, dias depois, o governo francês disse que não estava pronto para validar o acordo, citando, entre outros motivos, os rumos da agenda ambiental no Brasil.
De acordo com o pesquisador Mário Mantovani, diretor da ONG SOS Mata Atlântica, o atual governo brasileiro é composto por pessoas consideradas "negacionistas do clima", que precisam entender que o que vale no mercado internacional são regras internacionais. Segundo ele, a tentativa do Brasil de se alinhar aos Estados Unidos nessa questão do clima, indo na contramão da maioria dos países, não traz benefícios para o país.
"Não dá para o Brasil querer acompanhar os Estados Unidos", afirmou o especialista em entrevista à Sputnik Brasil, citando os altos custos de uma possível saída do Acordo do Clima. "Diz que vai manter o acordo, mas o que acontece aqui é um desmonte do ministério, é uma falta do controle do desmatamento, o fim da fiscalização, um acordo espúrio feito com a bancada ruralista."
Mantovani acredita que o Brasil, dada a riqueza de sua biodiversidade, poderia muito bem utilizar uma agenda ambiental efetivamente positiva como valor agregado para suas commodities no exterior. Mas, em vez disso, há uma tendência contrária, com implicações inclusive econômicas para o país.
"Não é papo de ambientalista, não é papo de quem quer abraçar árvore. Nós estamos falando de mercado. E o mercado internacional é cruel, principalmente quando se trata de protecionismo ou de países que não cumprem aquilo que prometem."
O pesquisador é taxativo ao afirmar que, com as atuais políticas e níveis de desmatamento, o Brasil não conseguirá cumprir seus compromissos internacionais no que diz respeito ao meio ambiente, "e o governo sabe disso".
"Por isso eu digo que estão colocando em risco os negócios do Brasil. Ou muda de atitude ou o Brasil vai se comprometer de forma ruim e negativa."