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'A gente é reconhecido no mundo todo, exceto aqui no Brasil', diz cubano do Mais Médicos

Apesar das críticas, Jair Bolsonaro (PSL) pretende reativar o Mais Médicos e recontratar cubanos. Para debater o assunto a Sputnik Brasil ouviu um médico cubano e um diretor da Federação Nacional dos Médicos.
Sputnik

O anúncio foi feito na quarta-feira (10) pelo Ministério da Saúde, que afirmou ao site G1 que está trabalhando em um "novo programa para ampliar a atenção primária". A expectativa é de que a mudança seja efetivada via Medida Provisória em agosto deste ano.

O programa Mais Médicos foi implantado em 2013 durante o governo da presidente Dilma Rousseff (PT). À época, o intuito da medida era ampliar o atendimento médico no Brasil em áreas carentes.

A presença de médicos cubanos no programa tornou-se polêmica e os médicos foram alvos de ataques e protestos. 

Em novembro de 2018, Cuba decidiu retirar os médicos do Brasil citando o então presidente eleito Jair Bolsonaro, que em agosto daquele ano disse que "expulsaria" os cubanos. 

Com a decisão do governo de Cuba, 8 mil vagas ficaram em aberto, mas cerca de 2 mil desses profissionais ainda estão no país.

'Somos atacados pela classe médica brasileira', diz médico cubano

O médico cubano Alioski Ramírez conta que há uma grande expectativa entre os médicos cubanos que ficaram no Brasil. Ele relata, em entrevista à Sputnik Brasil, que os médicos esperam desde fevereiro medidas do governo.

"Até agora todos estamos na expectativa esperando essa medida provisória”, diz, acrescentando que, por ora, seus colegas médicos estão se mantendo com bicos e ajuda de amigos.

O cubano também aponta a resistência dos profissionais brasileiros para o exercício da medicina por cubanos no Brasil, que foi "declarada em várias ocasiões".

"Nós médicos cubanos somos constantemente atacados pela classe médica brasileira. A classe brasileira não reconhece nossa formação como médicos apesar de Cuba ser um dos sistemas de saúde mais avançados. [...] A gente é reconhecido no mundo todo, exceto aqui no Brasil", diz Ramírez, que também aponta que os indicadores de saúde são melhores em Cuba do que no Brasil “sobretudo pelo trabalho que a gente faz na atenção básica”.   

Ramírez deixa claro que ele e seus colegas cubanos irão atender ao chamado do governo brasileiro caso sua atuação profissional seja permitida.

"Com certeza [voltaria ao Mais Médicos]. Não só eu, todos nós médicos cubanos que ficamos no Brasil temos um compromisso de trabalhar onde o Brasil precisar. Se precisar no Amazonas, lá estaremos nós [...]. O médico cubano está preparado para assumir qualquer tarefa aqui no Brasil", afirma.

O médico explica que recebia cerca de 25% do salário nominal de R$ 11.800,00. Segundo ele, parte do valor era retido pelo governo cubano e outra parte era retida pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), que intermediou a vinda dos médicos.

Apesar disso, Ramírez não reclama do valor que recebia, mas critica o governo cubano, que para ele, tratava os médicos como "moeda de troca".

Por ora, o médico afirma que ele e seus colegas não se preocupam com o salário que receberão caso o Mais Médicos retorne, mas sim em serem "úteis no Brasil" através do exercício da medicina.

'A gente é reconhecido no mundo todo, exceto aqui no Brasil', diz cubano do Mais Médicos

'Os estrangeiros que vêm para cá, vêm dentro de um projeto político'

Jorge Darze, diretor de Relações Institucionais da Federação Nacional dos Médicos, afirma que o Mais Médicos não teve consultas que ele considerava necessárias para a implementação do programa. Segundo o diretor, a comunidade médica não foi consultada.

Darze recorda, em entrevista à Sputnik Brasil, a crítica à livre atuação dos profissionais estrangeiros sem revalidação obrigatória de diplomas, o chamado Revalida.

A medida foi justificada pelo governo pelo fato de que os médicos brasileiros não aceitavam trabalhar no interior do país, foco do projeto.

O diretor da Federação Nacional dos Médicos reconhece essa recusa dos profissionais brasileiros à época. Porém, ele justifica a escolha desses profissionais criticando o programa.

"Se nós tivéssemos uma carreira patrocinada pelo governo federal com uma remuneração decente e a garantia de que ele [o médico] teria condições adequadas de trabalho, nenhum médico se recusa a exercer a sua atividade em qualquer lugar do Brasil", ressalta.

O diretor da entidade médica ressalta que a proposta do Mais Médicos não era vista como vantajosa para os profissionais do país.

"A vida não para para as pessoas né? Então, se você tem um médico que abdica de uma proposta mais estável quando comparada a uma proposta mais instável, todo mundo vai optar pela proposta mais estável, aquela que dá uma certa segurança. E não para aventuras em regiões distantes", acrescenta, afirmando ainda que algumas regiões não teriam condições para o exercício da profissão.

Darze também revela que o programa a ser anunciado pelo Ministério da Saúde deve incluir uma carreira federal para os médicos com o objetivo de estimular a interiorização dos profissionais.

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