O conflito comercial entre os EUA e a China é citado pelos economistas como sendo uma das principais razões para a desaceleração recorde da economia chinesa em 27 anos. Porém, o país asiático pode compensar parcialmente as perdas causadas pelas restrições dos EUA à custa da África - uma região da qual conseguiu tornar-se um parceiro importante na última década.
Embora na cúpula do G20, realizada em junho, os dois países tenham concordado em retomar as negociações, os especialistas receiam que a disputa tarifária se agrave novamente.
Em caso de outro agravamento das relações com Washington, Pequim tem um "airbag" comercial - a África. Nos últimos anos, o país asiático aumentou significativamente a sua influência econômica no continente africano e ganhou novos mercados para os seus produtos, salientam os jornalistas Vladimir Tsegoyev e Nikita Bondarenko.
Previsão de crescimento
"O continente africano para a China é simultaneamente uma fonte de acesso direto aos recursos [bauxita de alumínio, minérios de metais ferrosos, florestas, depósitos de grafite para a produção de diamantes industriais] e um grande mercado de bens de consumo [vestuário, tecidos, eletrônica, eletrodomésticos e muitos outros produtos], o que é muito vantajoso no contexto da relação preço/qualidade aos olhos das grandes cadeias de compradores e revendedores", disse Pyotr Pushkariov, analista da TeleTrade.
Até 2020, os analistas estimam que o volume de comércio entre a China e as nações africanas pode aumentar em 33%.
Em muitos aspetos, a dinâmica positiva estará associada à eliminação gradual das barreiras comerciais entre os países da região, com a implementação do acordo da Área de Livre Comércio Continental Africano (AfCFTA), do qual a China é mediador.
Para o representante do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang, o novo acordo será a base para o desenvolvimento das relações comerciais entre a China e a África. A eliminação das barreiras alfandegárias entre os países do continente facilitará muito o fornecimento de produtos chineses para a região.
Influência comercial na África
Em 2018, o comércio da nação asiática com os EUA superou quase três vezes o volume do comércio com a África, atingindo US$ 633,5 bilhões (R$ 2,3 trilhões), de acordo com as estatísticas da Administração Geral das Alfândegas da China.
Na opinião de Pushkariov, no decorrer do tempo, as receitas das exportações chinesas para África e das próprias empresas chinesas no continente africano podem compensar parcialmente a perda causada pelas restrições tarifárias americanas.
Estima-se que, nos próximos anos, a China aumente ainda mais a sua influência na África através do apoio financeiro aos países do continente. Por exemplo, em setembro de 2018, o presidente chinês Xi Jinping prometeu destinar aos países africanos cerca de US$ 60 bilhões (R$ 226 bilhões) em investimentos, empréstimos e, em parte, doações.
Os especialistas destacam que essas ações de Pequim permitirão ao país colher benefícios econômicos, além de fortalecer sua posição geopolítica no mundo.