Por que não é bom investir no setor energético americano?

Empresas americanas perdem valor e investimentos, enquanto que o xisto se tornou uma ameaça ao mercado de petróleo. Saiba como a indústria de petróleo americana começou a tropeçar.
Sputnik

A Agência Internacional de Energia (AIE) informou que a oferta global de petróleo superará a demanda em 900 mil barris diários em 2020. Este desequilíbrio poderia ocorrer depois do lançamento de novos projetos no Brasil, Noruega e Canadá, que seriam somados ao boom de xisto nos EUA e pressionariam a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).

Segundo a AIE, em abril de 2019 a produção de petróleo nos EUA superou os 12,1 milhões de barris diários. A extração na Bacia do Permiano, nos Estados Unidos, foi a principal fonte de lucros recebidos por empresas norte-americanas nos últimos anos. Lá, entre 2011 e 2019, a produção de óleo cru quadriplicou após alcançar um volume de quatro milhões de barris diários. Mesmo assim, a indústria norte-americana de petróleo tem enfrentado problemas resultantes da falta de investimentos.

Entendendo a questão

Em 2018, os gastos realizados por produtores de petróleo de xisto nos EUA excederam os lucros. No entanto, os fabricantes desse país continuam a colocar a produção acima do fluxo de caixa e do retorno dado aos investidores, como diz a Reuters. Sua análise revelou que poucos produtores geraram grandes lucros, mesmo com a subida do preço em 28% em 2018, até chegar ao preço médio de US$ 65,06 o barril, diferença considerável quando comparado com seu preço de US$ 50,79 em 2017.

Segundo os cálculos de analistas, um investidor que tenha injetado 100 dólares no índice S&P 500 Oil & Gas Exploration & Production em 2013 pôde pegar somente 58,99 dólares ao final de 2018. Um investimento semelhante dava somente 9 dólares na Whiting Petroleum Corp., 33,51 dólares na Apache Corp. e 38,88 dólares na Devon Energy Corp.

Em contraste, os que investiram 100 dólares no S&P 500, que engloba as 500 maiores empresas do EUA, no final receberam até 150,33 dólares no final do mesmo período, compara a agência.

"Foi um momento crítico [para os produtores]. Perderam a confiança dos investidores", comentou os resultados da Reuters Clark Williams Derry, diretor de um dos departamentos do instituto de pesquisas e informação Sightline Institute.

Por que não é bom investir no setor energético americano?

'Epidemia' de falências

Enquanto os grandes grupos aumentam suas atividades na Bacia do Permiano, as pequenas e médias empresas iniciaram o desenvolvimento da indústria de produção de petróleo e gás de xisto.

"As grandes empresas com sólidos balanços contábeis e melhores qualificações de crédito coletam capitais de maneira mais fácil, enquanto que os investidores cada vez têm menos vontade de investir seus recursos em atividades realizadas por companhias pequenas, que não são capazes de gerar fluxo de caixa", destaca o jornal Financial Times.

No entanto, a onda de falências atingiu não somente os jogadores pequenos do mercado, mas também os grandes. Em maio de 2019, as exploradoras Halcon Resources e Alta Mesa Resources duvidaram de sua capacidade de manter-se em atividade.

Enquanto isso, os títulos da California Resources (empresa exploradora de petróleo) estavam se vendendo com um rendimento próprio do chamado "valor de lixo". Ou seja, 10 pontos percentuais acima do rendimento dos títulos do Tesouro norte-americano.

O Banco de Reserva Federal de Dallas assinalou em seu recente relatório que a redução de capitalização no mercado é tão alta que desanima os investidores. "As perspectivas de perfuração vertical estão mortas", disse um dos executivos norte-americano no relatório.

Como resultado, as empresas são vendidas por um preço pífio. A Callon Petroleum comunicou no dia 15 de julho que compraria a Carrizo Oil & Gas por 3,2 bilhões de dólares, incluindo sua dívida de 1,7 bilhões. Atualmente, uma ação da Carrizo Oil & Gas vale 13,12 dólares, quando em agosto de 2018 cada ação custava 23 dólares.

A contínua perfuração de poços baixa seu rendimento. É possível que a indústria norte-americana possa ver-se estancada em um futuro próximo, consideram especialistas.

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