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Brasil pode ser 1ª opção da China para substituir EUA no fornecimento de produtos agrícolas?

Na última segunda-feira, a China anunciou a suspensão da compra de produtos agrícolas dos Estados Unidos, em um novo desdobramento da guerra comercial entre os dois países, que, mais uma vez, está sendo visto como uma boa oportunidade para os produtores brasileiros.
Sputnik

Desde o início dessa guerra comercial entre as duas maiores potências da atualidade, vêm surgindo considerações sobre espaços em potencial a serem preenchidos pelo Brasil com suas commodities. Dessa vez, não é diferente. Mas, para o especialista em comércio internacional José Luiz Pimenta Junior, professor da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), enquanto há, sim, um vislumbre dessa possibilidade no curto prazo, há, ao mesmo tempo, razões para o Brasil e o mundo se preocuparem com a escalada das tensões econômicas entre Washington e Pequim.

Em entrevista à Sputnik Brasil, o acadêmico é taxativo ao afirmar que, no longo prazo, o protecionismo não faz bem a ninguém. Ele lembra que, por conta dessas medidas protecionistas adotadas dos dois lados, a economia mundial e o comércio mundial devem crescer menos neste ano.

"Os países podem se aproveitar disso no curto prazo, podem, enfim, vender mais produtos no curto prazo", comentou ele sobre a chance do Brasil e de outros países de substituir EUA e China em determinadas exportações. "No longo prazo, o protecionismo não faz bem a ninguém. Guerra comercial, a expressão como ficou cunhada, pode gerar tensões que podem trazer malefícios para todos no longo prazo."

Segundo o professor da FECAP, embora nem todas as medidas que compõem a retórica protecionista de EUA e China tenham sido colocadas em prática, a existência de tensões provocadas por essa retórica já é suficiente para mexer com os mercados, que repassam, por sua vez, essas incertezas para a população, num possível "efeito cascata". 

"Vamos ver como isso evolui nos próximos anos. Vamos ver como, efetivamente, as políticas se comportam nos próximos anos." 

​Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o país tem a ganhar com os recentes desdobramentos da guerra comercial entre Pequim e Washington, principalmente se souber se manter neutro na disputa. No entanto, esse ganho, não necessariamente, segundo ele, terá um impacto no valor real das exportações.

"Nós podemos ser beneficiados em termos de quantidade, mas não necessariamente em termos de preço. Claramente, com essa guerra comercial, a tendência vai ser que o Brasil aumente a quantidade exportada de produtos, mas isso não significa que os preços se manterão no mesmo patamar atual", disse ele também em entrevista à Sputnik, argumentando que é possível haver uma queda nos preços de alguns produtos que o Brasil exporta.

Comentando o caso específico da suspensão da compra de produtos agrícolas norte-americanos por parte da China, Castro afirma acreditar que o Brasil desponta como primeira opção nesse caso, uma vez que exporta, basicamente, os mesmos gêneros exportados pelos Estados Unidos.

"Quando a China deixa de comprar dos Estados Unidos, automaticamente, ela vai comprar do Brasil. Alguma coisa ela poderia comprar, por exemplo, da Argentina, em termos de soja", comentou o especialista, explicando que, para os EUA, não haverá mais um mercado definido para esse produto.

De acordo com Castro, a recente decisão de Pequim de mexer em sua taxa de câmbio, provocando quedas generalizadas nos mercados financeiros, não estava em cogitação. O movimento, segundo ele, indica para o mundo todo que a China vai se tornar mais agressiva comercialmente, na exportação de seus produtos, mesmo que haja aumento no custo de produção em função da matéria-prima importada do exterior, já que os produtores chineses contam com um grande apoio estatal.

"A China, neste momento, não deu um xeque-mate, não chega a tanto. Mas ela moveu uma peça que simplesmente fez com que o mundo tivesse que repensar o próximo lance."

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