A polêmica indicação de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para a mais disputada embaixada do Brasil chega ao Senado nesta semana e promete causar debates acalorados na casa. Na última semana, 40 dos 81 senadores assinaram uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que, se aprovada, impediria a indicação, caracterizando-a como nepotismo. A base governista, em contrapartida, articula um aliado para relatar a indicação, que precisa de 41 votos para ser aprovada. Afinal, o governo Bolsonaro tem força suficiente no Senado para confirmar essa indicação?
De acordo com o cientista político Bolívar Lamounier, diretor do Instituto Augurium, tudo indica que a votação na câmara alta do Congresso Nacional será muito apertada, devido à grande resistência a essa indicação.
"Eu tenho a impressão de que ele pode aprovar, mas por uma margem estreita. Ou pode não aprovar também por uma margem estreita. Eu acho que o Senado está muito dividido nessa questão", disse ele em entrevista à Sputnik Brasil.
Segundo o especialista, a decisão tomada pelo chefe de Estado brasileiro de indicar o seu próprio filho para uma função como essa tem uma pesada carga populista e representa uma clara afronta ao Itamaraty, "uma de nossas principais instituições", assim como ocorreu na escolha do próprio ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Para ele, uma eventual rejeição por parte do Senado a essa indicação representaria "uma derrota política muito séria" para o governo.
"É claro que ele está fazendo uma aposta pesada para indicar o seu filho. E, se a indicação for reprovada, não vai ser bom para ele", afirmou. "É claro que nepotismo é uma coisa extremamente reprovável em qualquer sistema político. Não é uma coisa que se faça, a menos que seja com a intenção de mostrar desapreço [pelas instituições]."
Analisando o possível impacto dessa votação para a aprovação de outras medidas importantes a serem votadas pelo parlamento, Lamounier afirma que, para ele, o presidente está constantemente criando atritos com a Câmara dos Deputados e o Senado. Ele acredita que isso não deverá atrapalhar o andamento da reforma da Previdência, que já se encontra bem encaminhada, mas pode, sim, interferir em outras discussões igualmente importantes.
"Se ele continua com essa atitude de hostilizar, de criar arestas e criar mal-entendidos, evidentemente, vai dificultar a evolução dessa relação com o Congresso. Isso pode não afetar a reforma da Previdência, mas afetará, ao longo do tempo, a tramitação de outras matérias."
Nesta segunda-feira, o Ministério Público Federal entrou com uma ação civil pública na Justiça com o objetivo de barrar a indicação de Eduardo Bolsonaro para a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos, alegando que ele não atenderia aos critérios mínimos exigidos para o cargo.