Os governadores do consórcio interestadual Amazônia Legal divulgaram nesta semana uma nota lamentando as posições do governo federal e afirmando que pretendem negociar diretamente com países europeus para obter recursos para programas ambientais.
O grupo Consócio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal é formado pelos governadores de Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
O professor da Universidade do Ceará e doutor em Ciência Política pela UERJ, Clayton Cunha Filho, em entrevista à Sputnik Brasil, disse que iniciativas como a dos governadores do Nordeste são formas de "driblar" as características autoritárias e centralizações excessivas do governo federal.
"São iniciativas que acontecem devido a essa característica do governo atual, que tem um viés extremamente centralizador e até mesmo autoritário, a gente precisa perder o medo de usar as palavras corretas, e que publicamente declara que vai privilegiar sempre quem se alinhar com eles, e qualquer dissidência vai deixar de lado", afirmou.
"Esse tipo de iniciativa [...] são demonstrações de insatisfação com decisões que estão sendo tomadas pelo governo federal e que atrapalham muito mesmo os interesses de pessoas que apoiaram ou que ainda apoiam o governo Bolsonaro", acrescentou.
O especialista destacou também que essa iniciativa dos governadores do Nordeste pode ser positiva para diminuir a grande centralização que existe na arena política brasileira.
"O Brasil, embora seja uma República federal, onde oficialmente há uma autonomia dos estados e municípios, mas ainda é uma federação que deixa a desejar em muitos sentidos. Ainda há um grau muito grande de centralização em diversas arenas da nossa política, e esses podem ser ensaios que levem a uma melhor articulação desses níveis estaduais e regionais que pode ser benéfico para o país a médio e longo prazo", completou Clayton Cunha.
'Falta de coordenação política'
Já o cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP), Maurício Fronzaglia, afirmou que a iniciativa da Amazônia Legal revela uma falta de coordenação política por parte do governo Bolsonaro.
"Isso demonstra a falta de coordenação política do governo, que é algo que já se vê nesses meses de governo com relação ao Congresso Nacional, há uma relação por ora conflituosa no Congresso, onde o presidente não teria dificuldade em formar um bloco de maioria, mas mesmo assim ele tem uma dificuldade nesse relacionamento", observou.
De acordo com ele, a iniciativa dos governadores do Nordeste em relação ao consórcio Amazônia Legal demonstra um caso análogo.
"Falta um pouco mais de jogo de cintura e sabedoria política pro presidente negociar com os governadores, incluindo aqueles que já o apoiam", completou o especialista.
Responsável por 93,8% do valor já arrecado pelo Fundo Amazônia, a Noruega é a principal financiadora da iniciativa, seguida por Alemanha (5,7%) e Petrobras (0,5%). Para ter acesso aos recursos, o Brasil precisa ter desmatamento anual inferior à taxa de 8.143 km² na Amazônia.
A Noruega bloqueou repasse de R$ 133 milhões destinados ao Fundo Amazônia após a Alemanha também embargar a transferência de R$ 155 milhões.