Envolto em considerações sociais, culturais, religiosas, médicas e até de segurança, o tema da liberação do cultivo da cannabis medicinal vem desencadeando polêmicas mundo afora há muitos anos. No Brasil, a questão está sendo debatida no Senado Federal e deve encontrar resistência da chamada bancada evangélica, entre outros grupos.
Estima-se que, com a possível regulamentação aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o total de pacientes beneficiados pelos medicamentos à base de cannabis chegue a 3,4 milhões em três anos, com um mercado potencial de R$ 4,7 bilhões anuais, segundo calcula a empresa de dados New Frontier em parceria com a startup brasileira The Green Hub.
— Anvisa (@anvisa_oficial) August 16, 2019
Em entrevista à Sputnik Brasil, o cofundador e CEO da The Green Hub, Marcel Grecco, explica que o Brasil possui um potencial de mercado sem igual na América Latina, devido ao tamanho de sua população e às diversas enfermidades que poderiam ser tratadas com esse tipo de medicamento por aqui. De acordo com ele, uma regulamentação efetiva desse produto no território nacional poderia beneficiar, no longo prazo, até 45 milhões de pessoas, após o devido estabelecimento e difusão desse tratamento. Mas, para isso, seria necessário superar alguns entraves.
"Nós vemos o governo com uma preocupação sobre o cultivo de cannabis medicinal no Brasil, devido a questões de segurança, devido a questões de um possível encaminhamento para o uso recreacional, social. Mas a gente vê que a Anvisa vem fazendo um belo trabalho, entendendo como está sendo essa regulamentação em todo o mundo, em diversos países, em estados americanos. Então, essa questão do governo é bem preocupante, mas é algo que a gente entende que, com bastante dados e informações, nós conseguiremos superar isso também", disse o empresário.
— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) May 14, 2019
Atualmente, como destaca Grecco, os pacientes que desejam fazer uso do chamado canabidiol para tratar determinada doença, precisam, após a prescrição do médico, entrar em contato com a Anvisa para conseguir uma liberação de importação de medicamentos produzidos no exterior. Fora isso, há também alguns casos de decisões judiciais liberando o cultivo da planta por paciente em suas próprias residências, de forma a facilitar o acesso. A consulta pública que se encerra hoje coloca em pauta justamente o cultivo e a produção desses medicamentos aqui no Brasil por empresas especializadas e também para fins de pesquisas científicas.
"A gente já vê uma grande movimentação das empresas farmacêuticas, entendendo que já é um movimento sem volta, que a medicina canabinoide vem evoluindo em todo o planeta e que, se eles não aderirem a essa onda, poderão ficar para trás. Então, a gente vê diversos tipos de movimentações, desde empresas que têm interesse de entrar nesse mercado através de importação até empresas que se preparam para possível produção de medicamentos aqui, em território nacional", declarou o especialista à Sputnik Brasil.
Entre as diferentes enfermidades que poderiam ser tratadas com remédios derivados de cannabis, segundo Marcel Grecco, estariam epilepsia, autismo, dor crônica, mal de Alzheimer, doença de Parkinson, depressão e ansiedade.
"As moléculas do CBD e do THC, que são as mais abundantes na planta de cannabis, têm realmente um potencial terapêutico muito amplo. Por isso que nós dizemos que está acontecendo aí uma questão que nunca foi vista na medicina, de uma substância com um poder terapêutico tão grande."
— Osmar Terra (@OsmarTerra) August 18, 2019
Apesar dos benefícios reconhecidos por cientistas do uso de medicamentos à base de cannabis, muitos especialistas advertem para vários riscos ligados à droga, que podem ir desde tonturas e fadiga excessiva a alguns distúrbios psiquiátricos.