X. (identidade preservada), morador do Galo Branco, bairro gonçalense que dá nome à empresa de ônibus, acordou bem cedo nesta manhã porque tinha uma entrevista de emprego na distante Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Correu para o ponto de ônibus com o objetivo de pegar um coletivo da linha 2520, que faz o trajeto entre Jardim Alcântara e Estácio. Mas, como o veículo estava muito cheio, preferiu aguardar o próximo. Mal sabia ele que, com isso, estava escapando de uma experiência traumatizante.
Em entrevista à Sputnik Brasil, X. conta que, após pegar o seu ônibus, que vinha logo atrás daquele que ele preferiu rejeitar, acabou pegando no sono, achando que seria apenas mais uma viagem longa, porém tranquila, pelo Rio de Janeiro. Até que, em dado momento, foi acordado com a notícia que chocou todo o país nesta terça-feira.
"Já na ponte, na altura do Mocanguê, o trânsito começou a engarrafar e eu estava dormindo. Quando acordei, os passageiros estavam falando de 'sequestro do 520 da frente'. 520 é o número do ônibus", conta o rapaz. "Eu soube que ele (o sequestrador) subiu no ponto final, em Alcântara, e só anunciou o sequestro na ponte. Mas vi isso na mídia. Se isso for verdade, quando recusei o ônibus, ele já estava lá", lembra ele, explicando que, quando decidiu não entrar nesse ônibus em questão, tudo parecia bem, sem sinal de anormalidade.
Ainda de acordo com o jovem, ele e os demais passageiros que estavam com ele conseguiram ver a movimentação estranha no veículo sequestrado durante um certo tempo. Mas, "depois, ficou muito poluído. Muita sirene, muito carro de polícia , muita gente".
Embora todos os reféns tenham escapado com vida do incidente de hoje, X. acredita que o desfecho da operação conduzida pelas autoridades para acabar com o sequestro não foi o mais adequado, ainda mais considerando que a execução do suspeito pode ser utilizada como justificativa para outras ações polêmicas por parte da polícia fluminense, considerada uma das mais violentas do mundo.
Em uma rede social, o jovem disse temer que o governador do estado, Wilson Witzel, utilize esse "final trágico para continuar sua política de extermínio do povo preto, pobre e favelado".
Witzel tem incentivado a polícia a utilizar a força letal contra suspeitos em incursões em áreas de risco, provocando indignação entre defensores dos direitos humanos. Além das polêmicas declarações, seu governo registra recordes de letalidade policial, com 881 mortes apenas nos primeiros seis meses do ano.
Sequestro na ponte Rio-Niterói
Na manhã de hoje (20), a ponte que liga Rio de Janeiro e Niterói foi parada no sentido do Rio devido ao sequestro de passageiros de ônibus realizado por homem posteriormente identificado como William Augusto Nascimento, de 20 anos.
O sequestro durou cerca de três horas e meia e terminou com a morte de sequestrador e todos os reféns liberados ilesos. Após a neutralização, o porta-voz da Polícia Militar, Mauro Fliess, informou que sequestrador usou uma arma de brinquedo.