Preço da independência: setor petrolífero dos EUA é atingido por onda de falências

Enquanto os Estados Unidos estão quebrando recordes de produção de petróleo – quase 12 milhões de barris por dia – cada vez mais produtores estão ameaçados pela falência. Sputnik explica qual é o preço que a indústria vai pagar pelos registros atuais.
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Em primeiro lugar, estamos falando do óleo de xisto, ao qual o mercado deve um aumento tão rápido. Mesmo agora, o crescimento da demanda já abrandou significativamente, e até 2020 espera-se que o mercado do ouro negro seja excedentário.

Ritmo da produção

A demanda mundial de petróleo, que está aumentando cerca de 1,2 por cento ao ano, não consegue acompanhar o ritmo da produção. Sem surpresa, a produção de ouro negro nos EUA aumentou quase 12% ao longo do ano (de 10,96 para 12,45 milhões de barris por dia) e são esperados mais 7,5%, para 13,39 milhões, em 2020.

Vinte anos atrás, a demanda por petróleo cresceu cerca de três vezes mais rápido do que hoje. Mas a melhoria da eficiência no uso dos combustíveis e o abrandamento do desenvolvimento econômico da China alteraram a situação.

O atual desejo de Trump de intensificar a guerra comercial com a China, o maior consumidor de energia, promete uma desaceleração ainda maior.

Devido a esta corrida, as empresas de óleo de xisto estão catastroficamente sem dinheiro, tanto para o crescimento agressivo como para o retorno dos acionistas.

A questão é agravada pelo fato de que os preços do petróleo flutuam em torno dos US$ 60 por barril, enquanto no passado estiveram a mais de 75.

Como advertiu em maio a Agência Internacional de Energia (AIE), apesar da atividade recorde das empresas de xisto betuminoso, um novo choque de mercado as espera. Segundo estimativas da AIE, já no início de 2020 o mercado mundial de petróleo enfrentará um excesso de oferta comparável ao observado em 2014-2015: a produção excederá a demanda em quase dois milhões de barris por dia.

Nível crítico

Os esforços da OPEP para conter a produção não são suficientes, acreditam os analistas da AIE. Ou seja, os preços continuarão a descer. Esta é uma má notícia para os projetos de xisto, que são lucrativos, em regra, com cotações superiores a 50 dólares por barril.

Como disse em março John Hess, o chefe da Hess, uma das maiores empresas de xisto americanas, com os preços do petróleo WTI em torno de US$ 57 por barril, mesmo um ligeiro aumento no custo dos empréstimos irá privar muitas empresas de seus lucros.

Para se poder lançar novos projetos, as cotações do WTI devem se manter de forma estável em torno de US$ 60.

De acordo com estimativas do escritório de advocacia americano Haynes & Boone, desde 2015 houve 192 falências de produtores de petróleo com dívidas superiores a US$ 106 bilhões e outras 185 falências de empresas de serviços de campos petrolíferos com dívidas de US$ 65 bilhões.

A razão são os baixos preços das fontes de energia em meio a uma desaceleração cíclica na economia, disseram os analistas.

Pequenos intervenientes

Algo semelhante também está a acontecer agora. De abril a junho, o preço do WTI caiu 23%. E o resultado não demorou: em maio foi anunciada a falência da Weatherford, uma das principais fornecedoras de serviços de perfuração de poços.

A California Resources, especializada na exploração e produção de petróleo e gás natural, também enfrenta problemas. Uma série de pequenos intervenientes – Grupo Bristow, PHI, Jones Energy e Rex Energy – faliram depois de ficarem sobrecarregados com dívidas.

No entanto, o que está a acontecer no mercado mostra que mesmo o óleo caro não salva os produtores de óleo de xisto. Apesar das vagas de correção, desde o início do ano o preço do petróleo aumentou 20,7%. Mas os problemas não desapareceram.

No início de agosto, o pedido de falência foi apresentado pelo perfurador de xisto Halcon Resources. O lucro da Concho Resources caiu 25%.

Outro produtor de xisto, a Whiting Petroleum, em uma tentativa de lidar com seus problemas financeiros, anunciou uma redução de 30% do pessoal.

Nenhum investimento

A situação poderia ser salva por investimentos, mas os investidores parecem já ter voltado as costas aos projetos de xisto.

"Investidores de vários produtores com problemas financeiros, que sofreram com a crise dos preços em 2015, provavelmente perderam a esperança de que o aumento dos preços das commodities será benéfico e melhorará a situação", disse Haynes & Boone.

Nos últimos dez anos, 40 dos maiores representantes da indústria gastaram mais quase 200 bilhões do que ganharam. Os milhares de poços em depósitos de xisto bombeiam muito menos petróleo e gás do que foi prometido aos investidores. No ano passado, a Wall Street investiu na indústria metade do que investiu em 2017.

O Goldman Sachs, o principal banco de investimentos dos EUA, advertiu que em 2025 o óleo de xisto irá perder qualquer significado econômico: são evidentes "todos os sinais de exaustão".

Este é um problema eterno. A produção dos depósitos de xisto está diminuindo rapidamente. É por isso que as empresas têm de perfurar novos poços a toda a hora. E isso representa enormes custos adicionais.

Restrições ambientais

Outra razão para o declínio do investimento são as restrições ambientais na perfuração ou a mudança para combustíveis alternativos. "Os investidores estão preocupados que as empresas petrolíferas estejam gastando dinheiro em algo que está em perigo de declínio.

Mas isso é inevitável à medida que cresce a popularidade dos carros elétricos e híbridos", diz David Katz, presidente da empresa de investimentos Matrix Asset Advisors, sediada em Nova York.

Nos últimos seis anos, a parte das ações das empresas americanas de petróleo e gás em termos de valor no índice S&P 500 diminuiu de 8,7% para 4,6%.

"Sempre que eles começam a perfurar, são biliões que vão para o cano. Não é surpreendente que as ações dos produtores de óleo de xisto estejam caindo", diz Steve Schlotterbeck, ex-CEO da EQT, o maior produtor de gás natural.

Durante décadas, os Estados Unidos sonharam com a independência dos produtores de petróleo estrangeiros. Este objetivo foi alcançado: as empresas petrolíferas estão produzindo volumes recorde de petróleo bruto e gás natural e são os principais exportadores. No entanto, como observa The New York Times, o preço que pagaram por isso parece ter sido demasiado elevado.

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