Há cerca de 3 semanas, milhares de incêndios na região amazônica seguem acesos. A questão tornou-se foco da atenção mundial e motivou protestos dentro e fora do Brasil contra a postura do governo sobre o tema.
A reunião mais recente do G7 tratou do assunto sob a liderança do presidente da França, Emmanuel Macron. O G7 decidiu enviar 20 milhões de euros ao Brasil, mas o país recusou a ajuda após troca de farpas entre Macron e o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.
Porém, no mesmo dia, o Canadá ofereceu valor semelhante ao Brasil para o mesmo fim, cerca de R$ 47,2 milhões, e o governo se negou a receber.
Sobre este assunto, a Sputnik Brasil consultou o ecologista, Sérgio Ricardo, do Movimento Baía Viva. O ambientalista afirma que considera a posição do governo brasileiro "uma grande insanidade" e previa que o país caminhava para um "isolamento diplomático" que também pode se tornar econômico em caso de retaliações como boicotes.
"Se de fato ocorrer boicote aos produtos agrícolas do país, produtos originários de áreas desmatadas, de áreas degradadas, vai haver um forte aprofundamento da crise econômica", afirma o ambientalista em entrevista à Sputnik Brasil.
Ricardo também aponta que essa possível crise teria efeitos principalmente sobre áreas onde a pobreza já é presente.
"Nesse caso, essa crise vai afetar principalmente o campo brasileiro, as áreas onde os indicadores de pobreza e inclusive pobreza extrema são bastante elevados", acrescenta.
O ambientalista também explica que a escalada negativa em relação às políticas ambientais deu um salto a partir de 2016 e que o não cumprimento de acordos internacionais pode gerar transtornos para o Brasil.
"O Brasil não cumprirá as metas do Acordo de Paris e em função disso deve sofrer fortes sanções econômicas", afirma o ambientalista, que acrescenta que desde janeiro há um acirramento de conflitos no campo.
Recursos vão "fazer muita falta", diz pesquisadora
Outra especialista ouvida pela Sputnik Brasil foi Sonaira Silva, professora da Universidade Federal do Acre (UFAC), coordenadora do laboratório de geoprocessamento aplicado ao meio ambiente.
O laboratório coordenado pela professora tem monitorado as queimadas na região amazônica. Sonaira afirma que as queimadas continuam aumentando.
"Esse ano a gente vê que existe uma relação muito estreita, muito forte com a mudança do uso da terra e com algumas discussões políticas", diz a pesquisadora em entrevista à Sputnik Brasil.
Silva também afirma que as medidas adotadas pelo governo até agora não são o suficiente para sanar o problema.
"Ainda são insuficientes porque ainda estão no nível de discurso. Eu tenho feito, além do monitoramento via satélite, um trabalho de campo nas últimas 2-3 semanas. E o que a gente chega para conversar com os agricultores é de que realmente não existe uma medida chegando para eles para levar uma alternativa em relação ao fogo ou até mesmo uma ação mais punitiva [...]", aponta a pesquisadora.
Já sobre a postura do governo de recusar ajuda financeira de outros alguns países no combate aos incêndios, Sonaira também acredita que seja um erro.
"Sem dúvida vão fazer muita falta sim ao combate [aos incêndios], principalmente na escala de nível estadual e, inclusive de nível municipal", diz.
Para a pesquisadora o governo federal tem que prestar atenção na atuação em diversas escalas. E que apesar de que os recursos oferecidos nem sempre sejam de grandes quantias, a nível local a ajuda poderia fazer a diferença.
"Então com certeza essa amarração que o governo federal está fazendo com relação à liberação desses recursos vai prejudicar em muito as ações", diz.
Sonaira também recorda o que o Brasil tem realizado diversos cortes orçamentários, o que para ela mostra que o país não deveria estar negando recursos externos.
"Eu acho que é um conjunto de engrenagens que a gente precisa pensar quando essa escala federal nega um recurso que é realmente muito importante. Nesse momento de crise em que a gente está fazendo vários cortes orçamentários - bolsas do CNPQ, de projetos - não me parece ter fundos de sobra para o presidente retirar a necessidade desse recurso", afirma.