Visualmente é um robô simples, mas a estrutura é formada por equipamentos de precisão. "Os principais componentes são uma câmera, que recolhe as imagens na altura dos cachos. Depois temos um laser, que serve para a navegação, para encontrar e desviar de obstáculos. Um segundo laser para recolher informação relativa à vegetação, para saber tamanho, estrutura, porque isso também é útil para o agricultor. E a antena GPS, para que toda essa informação tenha um posicionamento e consigamos construir mapas", explica à Sputnik Brasil o pesquisador Gonçalo Victorino, aluno de doutorado em Engenharia Agrônoma do Instituto Superior de Agronomia (ISA) da Universidade de Lisboa.
É no mês de agosto que as uvas começam a ficar prontas para serem colhidas nas vinhas pela Europa. A colheita é chamada de "vindima" e quando a época se aproxima os produtores de vinho precisam estimar a produção. Atualmente, um processo trabalhoso.
"Todas as empresas fazem esta previsão em formato manual. Indo à vinha, contando e pesando manualmente os cachos, para terem uma ideia de quanto é que vão produzir e, consequentemente, fazerem a gestão da empresa", explica à Sputnik Brasil o professor Carlos Lopes, do ISA.
As estimativas são fundamentais para toda a indústria do vinho. "Se soubermos com antecedência a produção do ano, podemos preparar as vindimas, a estrutura da adega, podemos influenciar o preço da uva, estimar a necessidade ou não de jogar cachos fora, caso haja excesso", explica o professor.
Como funciona?
Com o Vinbot, o processo passa a ser automatizado e preciso. Carlos Lopes é o responsável pela equipe portuguesa integrante do projeto do Vinbot. O robô foi fabricado por uma empresa da Espanha, dentro de um consórcio europeu. O investimento total no projeto foi de cerca de 2 milhões euros (R$ 9 milhões), com 76% financiados pela União Europeia. O projeto começou em 2014 e terminou em 2016. Como não se chegou a uma versão comercial final, o ISA ficou encarregado de melhorar a performance do Vinbot.
"A estimativa baseia-se na análise das imagens. O robô passa, faz uma sequência fotográfica e depois, através de algoritmos, consegue detectar a área dos cachos que aparecem nas imagens. Depois, com base em modelos que nós desenvolvemos, ele transforma a área dos cachos em peso e é com isso que nós estimamos a produção. No entanto, ele só consegue estimar os cachos que vê, e a videira tem muitas folhas que não deixam ver muitos cachos. Por isso precisamos desenvolver modelos que permitam estimar os cachos que não são visíveis", explica o professor.
É neste desafio que a equipe do ISA trabalha atualmente. "A plataforma está construída. Já temos todos os instrumentos. O que estamos desenvolvendo são todos os algoritmos, todos os processamentos que estão por trás da informação e isso demora um certo tempo. Existem outras tecnologias, como a de imagens aéreas, a que estima a quantidade de pólen no ar, mas estas são estimativas a níveis regionais e não para uma só vinha. É desta forma que o Vinbot se diferencia das restantes. É algo preciso, local, e que pode ser utilizado por um agricultor ou viticultor que queira otimizar o seu processo de vindimas. Existem desafios, mas é uma questão de dois ou três anos", avalia o pesquisador Gonçalo Victorino.
Com o fim do consórcio europeu a tutela do Vinbot ficou com uma empresa de Portugal, que será a responsável pela comercialização quando o produto estiver finalizado.