O Mandarim está em voga no Nordeste. Entre as empresas que se aproximam dos estados da região, cresce o interesse das chinesas Hikvision, a ZTE, a Dahua, e também a Huawei - todas alvos de embargos dos Estados Unidos, que as consideram ameaças à segurança nacional.
Para o presidente dos EUA, Donald Trump, a China é uma ameaça comercial e estratégica. A instalação de redes 5G - tecnologia dominada pela Huawei - tem sido tratada pelos EUA de forma hostil nos países membros da OTAN.
No caso do Brasil, o vice-secretário assistente de Estado dos EUA para comunicações internacionais e cibernéticas, Robert Strayer, afirmou ao jornal Folha de S. Paulo que Washington poderia repensar o compartilhamento de informações com o governo brasileiro caso as redes 5G chinesas sejam utilizadas. O embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, classificou a afirmação do norte-americano como "ridícula".
A questão ainda tem contornos políticos, tendo em vista que o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PSL), tem relações tensas com os estados nordestinos, única região em que foi derrotado nas eleições presidenciais de 2018. Durante a campanha Bolsonaro também adotou críticas à China e uma vez no Planalto, criou uma diplomacia crítica ao papel do país asiático e alinhada aos interesses de Washington.
Para Ricardo Rocha, economista e professor de Finanças do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), a posição brasileira no assunto deve ser ponderada, visando os interesses comerciais do país e fugindo de conflitos políticos ou diplomáticos.
"Nós temos que saber dentro das nossas relações comerciais, saber tratar com esses dois gigantes tentando atender os dois. Acho que o Brasil precisa ficar neutro em eventual disputa comercial dentro de alguns tratados, sem precisar tomar posição", diz Ricardo Rocha em entrevista à Sputnik Brasil.
A posição neutra recomendada pelo economista deve ser também observada em possíveis impasses de olho em ganhos econômicos para o país.
"Quando ele [o Brasil] tiver que tomar uma posição tem que fazer um jogo para ver onde é que ganha mais", recomenda.
Rocha aponta, porém, que qualquer desenvolvimento tecnológico hoje passa necessariamente pelo país asiático, que tem se tornado produtor e exportador de tecnologia de ponta.
"A China precisa hoje exportar capital e produzir fora da China para poder continuar mantendo um crescimento acelerado", afirma
O professor do Insper afirma também que a parceria com a China não significa tomar partido ideológico, lembrando que inclusive os EUA mantêm uma sólida parceria comercial com a China, principal parceira comercial tanto de Washington como do Brasil.
"Lá nos anos 1970, nos anos de chumbo da política brasileira, o Brasil tinha alinhamentos comerciais com a União Soviética", lembra.
A China vai ao Nordeste
A presença chinesa na região pode avançar através do Consórcio Nordeste, grupo formado entre os governadores nordestinos no início de 2019.
O grupo pretender lançar o programa Nordeste Conectado, que interessa empresas chinesas que dispõem de tecnologia de infraestrutura necessárias para a execução do projeto. Um exemplo é o Piauí, que tem parceria com a ZTE para a instalação de 5 mil quilômetros de fibra óptica no estado.
Além da fibra óptica, o Consórcio Nordeste também quer usar tecnologia chinesa para monitoramento em segurança pública, o que pode incluir a Dahua e a Hikvision. A Dahua já tem equipamentos operando na Bahia e em Pernambuco, conforme publicou a Folha de São Paulo.
Para o economista Ricardo Rocha, o Nordeste precisa desse tipo de parceria em investimento, tendo em vista o desenvolvimento local e sua população.
"Nós temos uma população muito grande no Nordeste, e carente de investimentos. Eu acho que o Brasil tem que olhar aquilo que é mais adequado", afirma.
Rocha observa que essas parcerias e investimentos tem sido fruto de movimentações de empresários, apesar de serem bem recebidas pelos governos. O economista acredita que essa configuração demonstra avanços na dinâmica capitalista brasileira.
"Claro que sem o apoio do Estado não haverá avanço, mas são iniciativas privadas que estão buscando o capital chinês ou não para o investimento no Brasil", ressalta.
Para o economista, o investimento estrangeiro é fundamental para que o país possa construir uma boa infraestrutura.
"Temos que aumentar nosso volume de importação, principalmente de bens com características tecnológicas. É isso que vai diferenciar as nações, quem tiver tecnologicamente preparado para enxergar esse mundo novo que está chegando em uma velocidade assustadora", conclui.