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Fala de Bolsonaro sobre Bachelet vai na contramão da diplomacia brasileira, dizem especialistas

Ex-presidente do Chile afirmou que houve redução do 'espaço democrático' no Brasil. Em resposta, Bolsonaro elogiou Pinochet e criticou pai da chilena, morto na ditadura.
Sputnik

Menos de uma semana após discutir publicamente com o presidente da França, Emmanuel Macron, por conta dos incêndios na Amazônia, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, se envolveu em mais uma polêmica internacional. Desta vez o alvo foi a alta comissária da Organização das Nações Unidas (ONU) e ex-presidente do Chile, Michele Bachelet.

Bachelet disse em entrevista que no Brasil nos últimos meses houve "uma redução do espaço cívico e democrático" e criticou a violência policial no país.

Em resposta, Bolsonaro afirmou que Michelle Bachelet, defende "direitos de vagabundos" e citou o pai da ex-presidente do Chile. Ele disse que se o general Augusto Pinochet não houvesse derrotado esquerdistas, entre eles o pai de Bachelet, o Chile hoje seria "uma Cuba".

Segundo um relatório do Serviço Médico Legal do Chile, Alberto Bachelet, pai da ex-presidente, morreu vítima dos maus-tratos sofridos após ser preso e acusado pela ditadura de traição à pátria.

Em entrevista à Sputnik Brasil, Paulo Velasco, professor de Política Internacional da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), disse que a postura de Bolsonaro vai na contramão da história da diplomacia brasileira.

"A declaração de Bolsonaro vai certamente na contramão daquilo que o Brasil tentou construir em termos de posicionamento junto ao regime de direitos humanos da ONU pelo menos desde a redemocratização. Nos últimos 30 anos o Brasil vem buscando assumir uma postura mais cooperativa e menos soberanista", disse Velasco.

Para Christopher Mendonça, professor de Relações Internacionais do Ibmec-BH, o presidente Bolsonaro cometeu uma "falha de comunicação".

"Nós já temos uma diplomacia conhecida internacionalmente pela sua suavidade, ativa e altiva, mas sempre bastante aberta ao diálogo, na construção de pontes e essa foi uma falha de comunicação do presidente Bolsonaro, que de forma agressiva e muito incisiva responde a ex-presidente Bachelet", afirmou Mendonça à Sputnik Brasil.

Paulo Velasco explica que o argumento de "soberania" usado por Bolsonaro neste caso ajuda a isolar o país internacionalmente.

"O presidente reagir de maneira bruta, alegando soberania e dizendo que há uma ingerência indevida em assuntos domésticos é uma reação não desejada e certamente compromete um pouco a posição do Brasil em mais um tema na agenda internacional", alega.

Já Christopher Mendonça disse que a fala de Bolsonaro justamente contra uma alta comissária da ONU pode trazer problemas para o Brasil às vésperas da Assembleia Geral das Nações Unidas, que será realizada de 20 a 23 de setembro em Nova York, nos Estados Unidos.

"Por se tratar de uma representante da ONU isso traz uma repercussão bastante negativa ao Brasil, às vésperas da Assembleia Geral da ONU, também às vésperas da chegada do Ministro de Relações Exteriores do Chile aqui no Brasil. Nós estamos passando por um processo bastante complicado do ponto de vista discursivo, o presidente acaba passando uma imagem negativa para toda a comunidade internacional", disse Mendonça.

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