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Amazônia: desmatamento sobe pelo 4º mês consecutivo e cresce preocupação com incêndios

O desmatamento na Floresta Amazônica brasileira aumentou pelo quarto mês consecutivo em agosto em relação ao ano anterior, de acordo com dados preliminares do governo divulgados na sexta-feira, aumentando as preocupações com os incêndios que já devastam a região.
Sputnik

A Amazônia brasileira está enfrentando sua pior série de incêndios florestais desde 2010, com notícias da destruição da maior floresta tropical do mundo no mês passado, provocando protestos globais e preocupações de que possa prejudicar a demanda pelas exportações do país.

O principal grupo da indústria exportadora de carne do Brasil e outras associações do agronegócio se juntaram na sexta-feira a organizações não-governamentais (ONGs) para pedir o fim do desmatamento em terras públicas, exigindo ação do governo em meio aos incêndios.

"Não vi nenhum contrato sendo cancelado em nenhum setor. As exportações continuam, mas a luz vermelha está piscando", disse Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio, em entrevista a repórteres. "Se a ação não for tomada, se o discurso não mudar, se a retórica não mudar, as coisas podem piorar".

Os ambientalistas culpam a forte retórica do presidente de direita Jair Bolsonaro em favor do desenvolvimento da Amazônia para encorajar os desmatadores e aqueles que incendiam.

Bolsonaro reclamou que o país não tem recursos para policiar uma área tão grande quanto a Amazônia. O país está enfrentando um acentuado déficit orçamentário, pois sua economia se recupera mais lentamente do que o esperado de uma profunda recessão.

O ministro do Meio Ambiente do Brasil, Ricardo Salles, disse à Agência Reuters em uma entrevista na sexta-feira que o governo não tinha fundos suficientes para contratar agentes policiais ambientais permanentes, que são usados para combater o desmatamento e incêndios.

Em vez disso, o governo federal planeja contratar policiais ambientais estaduais nos seus dias de folga para ajudar na execução, disse ele. "Você precisa ser criativo", acrescentou.

O grupo dos sete países ricos ofereceu US$ 20 milhões em ajuda na semana passada para ajudar a combater os incêndios, mas Bolsonaro disse que só aceitaria se o presidente francês Emmanuel Macron retirasse "insultos" contra ele.

Bolsonaro e Macron foram envolvidos em uma guerra de palavras profundamente pessoal e pública, com Bolsonaro zombando da esposa de Macron e acusando o líder francês de desrespeitar a soberania do Brasil. Macron chamou Bolsonaro de mentiroso e disse que as mulheres brasileiras "provavelmente têm vergonha" dele.

Amazônia: desmatamento sobe pelo 4º mês consecutivo e cresce preocupação com incêndios

Ainda não está claro se o Brasil aceitará a oferta, embora o país receba 10 milhões de libras em ajuda do Reino Unido, segundo a embaixada britânica em Brasília.

Aumento do desmatamento

Nos oito meses até agosto, o desmatamento da Amazônia aumentou 92%, para 6.404,8 quilômetros quadrados (2.472,91 milhas quadradas), uma área maior que o estado americano de Delaware, de acordo com dados preliminares do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Somente em agosto, o desmatamento mais do que triplicou para 1.700,8 quilômetros quadrados (657 milhas quadradas).
Muitas vezes, o desmatamento é seguido de queimadas para limpar a terra para a pecuária ou a agricultura, de modo que a destruição em agosto pode sinalizar mais incêndios na Amazônia, segundo Ana Paula Aguiar, pesquisadora do INPE que está de licença na Universidade de Estocolmo.

"Eles cortam árvores e depois começam a queimar, então possivelmente [o pico de queimadas] continuará", afirmou Aguiar. "Se eles já desmataram no mês anterior, veremos fogo este mês".

Nos cinco primeiros dias de setembro, o INPE registrou 2.799 incêndios na Amazônia, uma queda de 60% em relação ao mesmo período de 2018.

Se os hotspots continuarem sendo registrados na mesma taxa, setembro pode ser um mês melhor para incêndios, caindo abaixo do mesmo mês do ano anterior e da média dos últimos 20 anos, disse Aguiar. Mas com apenas alguns dias de dados, é muito cedo para contar, disse ela.

O ministro do Meio Ambiente Salles atribuiu a queda no número de incêndios às medidas do governo para combater os incêndios, que incluíram o envio de militares.

A chuva pode trazer alívio para a parte ocidental da Amazônia brasileira, embora, a leste, amplas áreas da floresta tropical permaneçam extremamente secas, segundo dados do Refinitiv.

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Chamada à ação

O grupo de carne Abiec e as ONGs Imazon e IPAM estão entre os 11 grupos brasileiros que assinaram uma campanha na sexta-feira pedindo uma força-tarefa do Ministério da Justiça para resolver conflitos por terras públicas, disseram representantes dos grupos a repórteres.

A proteção da Amazônia, que absorve grandes quantidades de gases de efeito estufa que causam o aquecimento global, é vista como vital para o combate às mudanças climáticas. Aproximadamente 60% da Amazônia está no Brasil.

A campanha também pede que outra força-tarefa examine as florestas em terras públicas às quais não foi atribuída nenhuma reserva ou outro status.

Cerca de 40% do desmatamento em 2018 ocorreu em terras públicas, segundo o IPAM.

Todas as florestas devem receber designações com base no que são mais adequadas, disse o diretor executivo do IPAM, Andre Guimarães. Por exemplo, se contiver espécies sensíveis, uma floresta poderá ser protegida como reserva ou parque nacional, disse ele.

Outros poderiam ser designados como florestas nacionais ou áreas de concessão para a exploração sustentável de madeira, disse Guimarães.

Aproximadamente 650.000 km2 de floresta no Brasil - uma área quase o dobro do tamanho da Alemanha - não têm designação, de acordo com o IPAM.

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