No início desta terça-feira, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, convocou o Conselho de Defesa da Nação para tratar de supostas ameaças que vêm sendo apresentadas ao país por parte do governo colombiano ao longo da fronteira.
Em conformidade com o artigo 323 de nossa Constituição, convoquei o Conselho de Defesa Nacional para conduzir, de forma coletiva e em uma união cívico-militar, a atual conjuntura de graves ameaças por parte do governo bélico da Colômbia contra a Venezuela.
Mais tarde, durante o dia, teve início no país uma atividade militar nomeada Soberania e Paz 2019, que seguirá até o próximo dia 28 na zona de fronteira.
A partir de hoje, 10 de setembro, começam os Exercícios Militares de Fronteira "Soberania e Paz 2019", para que, juntos, em união cívico-militar, possamos implantar todos os sistemas defensivos que garantam a paz e a tranquilidade do povo venezuelano.
Do lado colombiano, um representante do governo de Iván Duque, disse, citado pela imprensa, que o país está em alerta máximo para os exercícios programados no país vizinho, anunciados, segundo ele, sempre que Maduro precisa buscar apoio interno.
O aumento recente nas tensões entre colombianos e venezuelanos ocorre meses depois de um plano fracassado da oposição para tirar o atual presidente da Venezuela e colocar em seu lugar o líder opositor Juan Guaidó, apoiado por Colômbia, Estados Unidos e Brasil.
Ao longo desse período, analistas e autoridades de diversos países demonstraram preocupação com a possibilidade de um conflito armado de grandes proporções na região, receio que volta à tona com as últimas movimentações de Caracas em relação a Bogotá.
O professor de Relações Internacionais Fernando Almeida, da Universidade Federal Fluminense (UFF), acredita que o aumento das tensões entre Venezuela e Colômbia não deve levar realmente a um conflito armado na região. No entanto, em entrevista à Sputnik Brasil, ele diz considerar plausível o temor do governo venezuelano em relação a uma possível ação internacional liderada pelos Estados Unidos a partir do território colombiano.
"Ela [Colômbia] pode realmente servir para isso. Em razão de ter ligações há bastante tempo com os Estados Unidos, por precisar de recursos para o combate ao tráfico de cocaína, que é a maior produtora mundial, e os EUA optarem por uma estratégia de combate às drogas nos territórios produtores, ela tem recursos dos Estados Unidos, tem muitos militares americanos. E um governo de direita", explica o acadêmico.
Para Almeida, não há dúvidas de que existem atualmente agentes internacionais interessados nessa situação de crise entre os dois Estados sul-americanos. Mas a postura adotada por Caracas no que diz respeito aos exercícios militares de fronteira teria uma preocupação mais local, não necessariamente ligada a um temor de intervenção internacional.
"É uma região sempre tensa. E, agora, o deslocamento dessas tropas, sem dúvidas, tem por trás essa questão de haver guerrilheiros e ex-guerrilheiros colombianos na área venezuelana, com o governo colombiano protestando por eles serem acolhidos lá dentro", disse ele, citando os casos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e do Exército de Libertação Nacional (ELN).
Ainda de acordo com o professor da UFF, apesar das diversas ameaças feitas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, os últimos desdobramentos da relação entre Washington e Caracas parecem mostrar que, talvez, a equipe da Casa Branca tenha entendido que as sanções econômicas adotadas já representam "um garrote muito forte sobre a Venezuela".
"Não é necessário ter uma intervenção militar e os tempos não são mais para isso", declarou o especialista à Sputnik, sublinhando as dimensões do território venezuelano e o tamanho e o poder de mobilização do povo. "Acredito que o governo Trump tenha entendido que o que eles podem fazer de aspectos econômicos para asfixiar o governo venezuelano já é mais do que suficiente. Qualquer iniciativa maior do que isso é um desgaste político imenso e um desgaste econômico também imenso."