No entanto, em entrevista a jornalistas estrangeiros no Rio de Janeiro, Guedes novamente defendeu a ideia e disse que o imposto – semelhante à antiga CPMF – reduziria outros impostos, como imposto de renda ou imposto sobre valor agregado.
Guedes também enfatizou que as reformas econômicas do governo podem ajudar a economia a crescer 2,5% no próximo ano, que as privatizações durante este ano atingirão a meta de R$ 80 milhões e que o processo de vendas de ativos será acelerado em 2020.
A implementação de uma nova versão da impopular CPMF, que foi abolida em 2007, tornou-se nas últimas semanas o projeto mais controverso dentro do ambicioso plano do governo de reformar o complexo sistema tributário.
Importante funcionário do Ministério da Economia que participou da redação da proposta, Marcos Cintra foi demitido esta semana por conta do polêmico assunto. Guedes repetiu seu apoio à iniciativa nesta sexta-feira, mas reconheceu que o presidente não a apoia.
"Estávamos trabalhando em um imposto sobre transações financeiras, mas o presidente sempre foi contra e pediu que não o fizéssemos", disse Guedes, confessando que Bolsonaro telefonou para ele de um hospital em São Paulo, onde está se recuperando de uma operação de hérnia.
Guedes confirmou que está trabalhando com sua equipe a uma taxa de CPMF de 0,4% nas transações. No entanto, aparentemente irritado, ele disse que o número não deveria ter sido divulgado, em uma clara mensagem direcionada ao que Cintra havia revelado antes de sua demissão.
Economia só pode crescer ao final do mandato
Na mesma entrevista, Guedes declarou que a maior economia da América Latina pode crescer novamente apenas no final do mandato de Bolsonaro em 2022.
"Não sabemos quanto tempo levará para crescer novamente. Estamos fazendo nossa parte. Talvez em três ou quatro anos não seja uma ciência exata", comentou Guedes.
O ministro, um ex-banqueiro liberal formado em Chicago, destacou a agenda de reformas e controle dos gastos públicos sustentados pelo governo. Ao mesmo tempo, Guedes afirmou que o governo busca reverter a "falência" do Estado brasileiro causada por "governos social-democratas".
"O crescimento do país foi destruído ao longo de décadas. Começamos a fazer as reformas e acho que há uma boa oportunidade para a economia avançar bem no próximo ano", disse o ministro. "O excesso de despesas quebrou a economia brasileira", acrescentou.
Quando Bolsonaro assumiu a presidência em 1º de janeiro, ele gerou expectativas de que a economia se revitalizaria rapidamente. O mercado e muitos analistas especularam que a agenda liberal de Guedes geraria um choque de confiança.
No entanto, mesmo com uma reforma de aposentadoria - considerada vital pelo governo - que gerará uma economia fiscal de R$ 1 trilhão nos próximos 10 anos, perto de ser aprovada pelo Congresso, o ministro pediu na sexta-feira moderação nas expectativas.
Na terça-feira, o governo brasileiro estabeleceu a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 0,85% para 2019, confirmando que a economia brasileira permanecerá tecnicamente estagnada.