O relatório "Dependência de Commodities, Mudança Climática e o Acordo de Paris" aponta que as mudanças no clima podem reduzir áreas aptas para a produção de soja em até 28% até 2030.
A Sputnik Brasil ouviu Marcos Fava Neves, professor de Estratégia e Agronegócio da Universidade de São Paulo (USP) para discutir a questão.
Ao apresentar o prognóstico sobre o impacto das mudanças climáticas na produção agrícola brasileira, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) recomenda que o governo brasileiro se prepare e diversifique as bases de sua economia.
O professor acredita que essa é uma perspectiva importante, mas que o cenário é mais complexo do que parece, uma vez que países como a China, entre outros, dependem da produção brasileira de alimentos.
"Precisa entender de onde viria a comida para abastecer 9 bilhões de pessoas no planeta em 2050. Então se ele [o relatório] não está dando essa recomendação, ele já tem um furo, pois está sugerindo interferir na oferta e não vai ter como abastecer as demandas", afirma.
Crítico ao texto publicado pela UNCTAD, o professor entende que o Brasil tem atualmente bons exemplos no setor ambiental e uma legislação modelo nessa área.
Aposta na tecnologia
Para Fava Neves, a afirmação do relatório de que o país terá suas áreas cultiváveis de soja reduzidas não leva em conta avanços tecnológicos.
"Até 2030, com toda a genética 4.0 que está sendo desenvolvida - alteração de genes de plantas - com certeza nós teremos já uma soja apta", afirma.
O especialista explica que novas tecnologias podem fazer com que a soja possa ser cultivada em possíveis temperaturas mais altas, assim como utilizando menos água.
"Uma coisa importante para o relatório é considerar o avanço tecnológico que nós teremos em 13, 15 anos como um mitigador do risco de não se conseguir produzir em um suposto aquecimento do planeta", afirma Fava Neves.
O professor também entende que o esperado crescimento do agronegócio nos próximos anos em função da demanda não será necessariamente bancado com o avanço sobre as florestas no Brasil.
O relatório da UNCTAD, que destaca o Brasil como um país dependente de commodities, também alerta para o desmatamento como uma das principais fontes de emissão de gases estufa no país.
"A gente sabe que o crescimento desses 10 milhões de hectares que o Brasil precisa para suprir de maneira competitiva alimentos ao mundo podem vir de áreas já degradadas e pastagem", aponta.
Otimista, Fava Neves também acredita que há alternativas econômicas de serviços de preservação ambiental que o Brasil pode explorar nesse período, como o sistema de créditos de carbono. Dessa forma, segundo ele, a crise prevista pela UNCTAD poderia ser evitada.