O dente encontrado pertencia a um Paradolichopithecus, um grande macaco da família dos babuínos, que viveram durante o período do Plioceno, entre 2,6 e 5,3 milhões de anos atrás, reportou antropólogo Joshua Lindal, da Universidade de Winnipeg, ao jornal The Conversation.
A descoberta irá ajudar a ciência a compreender como viviam os primatas no período Plioceno, quando a Terra era cerca de 2 graus mais quente do que atualmente. Isso porque a concentração de carbono na atmosfera era alta, cerca de 400 partes por milhão – marca que ultrapassamos recentemente pela primeira vez em três milhões de anos.
Artigo sobre os nossos novos fósseis da Sérvia está no The Conversation. Estarei falando sobre isso na reunião da Associação Canadense de Antropologia Física de Banff no final dessa semana.
Cientistas estão estudando o período Plioceno para tentar compreender quais serão as consequências do aquecimento global para a vida dos primatas na Terra, caso não consigamos frear as emissões de gazes do efeito estufa.
Paraíso dos primatas
Aparentemente, o Plioceno foi uma época muito confortável para a vida dos primatas. O clima era mais quente e o nível do mar era mais elevado. Não havia calotas polares e as florestas boreais se estendiam até o Ártico. Os macacos europeus do período viviam em florestas húmidas, similares às subtropicais.
Os primatas daquela época também se preocupavam com as mudanças climáticas, mas com um tipo bem diferente delas.
O continente sul-americano estava já há muitos anos seguindo em direção ao norte, quando finalmente colidiu com a placa tectônica caribenha. A colisão teria consequências arrasadoras para o clima terrestre.
Com as Américas do Norte e do Sul conectadas pela primeira vez, o fluxo de água entre os oceanos Pacífico e Atlântico foi interrompido, redirecionando todas as correntes marítimas globais. A recém-formada corrente do Golfo começou a levar água quente diretamente ao norte europeu. Lá, a corrente quente evaporava e caía em forma de chuva, diluindo a salinidade das águas do Ártico a tal ponto que permitiu que ele congelasse.
Há três milhões de anos, as águas do Ártico começaram a congelar, inaugurando o Período Glacial.
O último primata
No início do período Pleistoceno, 2,6 milhões de anos atrás, primatas como o Paradolichopithecus já não haviam sobrevivido ao clima gelado. Essa mudança sem precedentes no clima da Terra levou à extinção de todos os primatas da Europa, menos um: o homo, o gênero humano.
O gênero humano, originário da África, foi capaz de se disseminar rapidamente por toda a Europa. Os humanos antigos foram capazes de se adaptar ao clima e desenvolver instrumentos, estratégias de caça e de controle do fogo. Em meados do período do Pleistoceno, várias espécies diferentes do gênero humano já habitavam a Europa, Ásia e a África.
O refúgio dos Bálcãs
A região dos Bálcãs é fundamental para entender como os humanos e outros animais reagiram às mudanças climáticas durante o período do Pleistoceno, uma vez que a região serviu de refúgio durante o período glacial.
Apesar das condições mais favoráveis dos vales dos Bálcãs, mesmo as espécies do gênero homo acabariam sucumbindo às mudanças climáticas. Todas as espécies humanas capitularam até o início do período Holoceno, 12.000 anos atrás – menos uma.
É tentador pensar que há algo de especial na nossa espécie, que nos permitiu sobreviver enquanto tantas outras entraram em extinção. Mas, segundo o antropólogo, a verdade é que nós provavelmente tivemos sorte. Lindal nota que a trajetória dos primatas deve nos lembrar de quão frágil é a relação da nossa espécie com o clima.
O humano seria uma espécie do Período Glacial. A crosta polar do norte nunca derreteu, desde a sua formação há três milhões de anos. Então, a "Era do Gelo" tecnicamente falando, segundo o antropólogo, ainda não teria acabado.
Mas se as mudanças climáticas antropogênicas continuarem a sua trajetória atual, nossa espécie irá se deparar com um mundo que jamais conheceu. Estudar os nossos parentes do período Plioceno pode nos dar uma perspectiva do que iremos enfrentar.