Notícias do Brasil

'Voluntários não deveriam estar na praia', diz oceanógrafo sobre óleo no Nordeste

Ao menos 200 cidades do litoral nordestino foram afetadas por manchas de óleo que chegam à costa brasileira desde o final de agosto. Para discutir as consequências do desastre, a Sputnik Brasil ouviu um oceanógrafo especialista nesse tipo de acidente.
Sputnik

Apesar do esforço coletivo empregado por voluntários e também pelo governo, a causa da crise ambiental ainda não foi desvendada. Diversos cenários foram imaginados como causa do desastre ambiental, desde um despejo acidental de petróleo em alto mar, até uma ação criminosa.

O oceanógrafo Jackson Krauspenhar, especialista em emergências ambientais causadas por derivados de petróleo, não descarta essa última possibilidade.

"Essa hipótese não pode ser descartada até que nós tenhamos a verdadeira origem, a resposta final", afirma Krauspenhar em entrevista à Sputnik Brasil.

Apesar de as investigações seguirem em andamento, o oceanógrafo tem uma hipótese própria sobre a causa do acidente.

"Provavelmente foi um navio de bandeira pirata, ou seja, um navio clandestino, furando o bloqueio na Venezuela - o embargo que os americanos fizeram na Venezuela", afirma, descartando, porém, que o óleo tenha vindo do país vizinho.

O especialista acredita que sob essas condições seriam usados navios com problemas de manutenção. Para ele, é provável que tenha acontecido algum tipo de acidente que obrigou a tripulação do navio a despejar a carga de petróleo.

'Essa contaminação vai entrar dentro da cadeia alimentar'

As consequências do desastre também seguem sob escrutínio, uma vez que a falta de elementos sobre a origem do óleo encontrado nas praias não permite ainda que os possíveis desdobramentos sejam bem definidos.

"A gente não sabe ainda o que está dissolvido nessa água, nós não sabemos os componentes que tinham no óleo", aponta o oceanógrafo.

Apesar disso, alguns efeitos já são certos, como contaminações em moradores e danos ao ecossistema local.

"Com certeza a cadeia trópica, a cadeia alimentar daquela região, já foi seriamente afetada", afirma.

O oceanógrafo explica que a parte mais aparente da contaminação pode ser vista através dos resgates de animais, mas que a contaminação dos organismos desses animais levará a contaminação adiante na cadeia alimentar.

"Essa contaminação vai entrar dentro da cadeia alimentar. Esses produtos são bioacumulados dentro dos organismos e acabam passando para a cadeia alimentar. Então a gente não sabe as consequências que vão ter", aponta.

Ação rápida do governo poderia ter amenizado efeitos

Para o oceanógrafo, não há argumentos que refutem o fato de que o governo demorou para tomar as ações necessárias de combate aos efeitos do desastre ambiental.

Krauspenhar explica que a ação nesse tipo de acidente deve ser imediata e critica, além da lentidão, o uso de voluntários na contenção dos efeitos do desastre.

"Esses voluntários na praia, eles não deveriam estar trabalhando na praia. [...] Os voluntários deviam estar atuando, digamos, em um segundo momento, usando roupa de proteção, equipamento de proteção", aponta.

Apesar da lentidão do governo, o oceanógrafo também afirma que o desastre é tamanho que mesmo com o acionamento de um plano de contingência imediato após as primeiras manchas, parte das consequência seriam inevitáveis.

"A gente não pode dizer que se no primeiro dia tivessem implantado um plano de contingência não teria óleo na praia. Teria igual, porque está parecendo que nós não temos como conter esse óleo antes de chegar na praia", explica.

Segundo Krauspenhar, um plano de contingência evitaria, porém, outros problemas. "Os manguezais estariam protegidos, muitos recifes estariam protegidos", diz.

Para o oceanógrafo, é impossível saber quanto óleo ainda chegará à costa brasileira.

Comentar