Agora são milhares os habitantes das províncias de Alberta e Saskatchewan que exigem uma futura independência. Seria esse um projeto realista? A Sputnik França consulta Todd Wayne, um dos diretores do Partido da Independência de Alberta, e o cientista político Louis Massicotte para contextualizar o mais recente debate independentista nas Américas.
Ao se espelhar no processo do Brexit, o movimento independentista a do oeste (West em inglês) do Canadá recicla o termo, inaugurando a, agora popular, hashtag #wexit nos fóruns de discussão do país.
Canadá empurrou Alberta para fora: líder do Partido da Independência diz que separação da província é a única opção viável.
Depois da reeleição de Trudeau sem maioria, em 21 de outubro último, a frustração ganhou espaço em meio ao debate político em Alberta e Saskatchewan. Nestas duas províncias somente um distrito eleitoral em 48 apresentou a vitória de um partido que não fosse o Partido Conservador. Em Edmonton Strathconan, o Novo Partido Democrático (NPD), uma formação de esquerda, passou a representar o distrito.
No distrito eleitoral de Battle River-Crowfoot, os conservadores recolheram 85,5% dos votos. Os números demonstram uma forte ruptura política entre o oeste canadense e o Partido Liberal de Trudeau, ou seja, entre o oeste e todo o restante Canadá.
"Os resultados das eleições demonstraram que o sentimento de frustração e alienação em Saskatchewan é maior agora do que tudo o que pude conhecer na minha vida", declara o primeiro-ministro de Saskatchewan, Scott Moe, comentando os resultados das eleições federais.
No centro deste sentimento de alienação está a indústria petroleira de areias betuminosas, considerada altamente poluente, mas das quais depende uma grande parte da economia destas províncias. Tal como Jason Kenney, seu homólogo de Alberta, Scott Moe defende a construção de oleodutos do oeste em direção ao leste, a fim de exportar a produção pelo oceano Atlântico. Um projeto que Trudeau encerrou, em meio a um contexto marcado pela maior conscientização popular em relação às mudanças climáticas.
Sentimento de alienação compreensível
Para Todd Wayne, o sistema de redistribuição representa uma grande fonte de frustração para os habitantes de Alberta. O sistema gera benefícios principalmente para Quebec, uma província menos rica, redistribuindo as receitas federais por todo o Canadá. Os primeiros-ministros de Alberta e Saskatchewan já expressaram o desejo de rever por completo este sistema.
"Trudeau encara uma verdadeira animosidade em Alberta. No oeste, há um sentimento de que Justin Trudeau busca fazer exatamente o que fez seu pai [o antigo primeiro-ministro Pierre Elliott Trudeau]: derrubar nossa indústria e nossa economia. Os habitantes de Alberta querem ser tratados com equidade e respeito. Não queremos mais ser considerados a fonte dourada de renda do Canadá. Não queremos somente reduzir as transferências de redistribuição, mas sim as eliminar!", acentuou Todd Wayne.
Colunistas e analistas estimam que a região oeste do Canadá necessitaria diversificar sua economia em vez de insistir na extração do petróleo das areias betuminosas. A antiga primeira-ministra de Alberta, Rachel Notley (2015-2019), empreendeu, de fato, diversas medidas para reduzir a dependência do petróleo em sua província. No entanto, Wayne crê que Alberta somente prosperará através da independência:
"Evidentemente, queremos diversificar nossa economia. Talvez não alcancemos isso tão rápido quanto alguns gostariam, mas alcançaremos. Uma Alberta independente teria os meios para se diversificar mais rapidamente. Os superávits orçamentais que teríamos após sair da federação nos dariam a possibilidade de colocar em prática essas medidas. O dinheiro enviado para outras províncias não nos ajuda a diversificar nossa economia", lamenta-se Wayne.
Especialista renomado em história política canadense, Louis Massicotte é bem menos entusiasta que Todd Wayne quanto ao projeto de secessão das províncias do oeste. Ele considera o movimento em favor do "Wexit" como uma reação relativamente legítima dentro de uma federação como o Canadá.
"Os primeiros-ministros, provinciais e federais, podem ter diferentes ideologias, mas começar uma guerra contra o resto da federação não é verdadeiramente uma boa forma de avançar suas agendas", afirmou o cientista político à Sputnik França.
Este professor da Universidade de Laval, no Quebec, estima que as reivindicações dos independentistas do oeste revelam mais uma forma de chantagem do que uma clara vontade política:
"Ameaçar se separar quando se sente menos representado por um partido no governo federal não é uma forma muito inteligente de fazer funcionar uma federação. Por vezes uma província está do ‘lado vitorioso’ e por outras do ‘lado perdedor’. Por outro lado, é claro que as províncias do oeste possuem queixas importantes, que tendem a não ser escutadas pelas províncias do leste, em particular o Quebec", prossegue Massicotte.
Wayne desconsidera este ponto de vista: ele discorda completamente que Alberta seja um "mau perdedor" ao defender o desejo de independência.
"Isto é muito mais que uma simples ameaça. Nosso projeto de independência representa um engajamento profundo pelos trabalhadores de Alberta e um meio de assegurar a prosperidade deles", se defende Wayne na entrevista.
Uma pesquisa de opinião publicada em julho de 2019 indica que 25% dos habitantes de Alberta estejam a favor da independência completa da província. A pesquisa, conduzida pela firma Abacus, conclui que somente 71% dos habitantes da província consideram que pertencer ao Canadá é um elemento positivo. Porém, Massicotte prudentemente lembra que os independentistas de Saskatchewan e Alberta ainda não obtiveram nenhum ganho:
"Ainda não foi provado que as populações dessas províncias desejem realmente se separar do restante Canadá. Entre alguns políticos e editorialistas que apoiam a separação e o resto da população há um grande abismo", conforme foi observado por Massicotte.