O presidente boliviano renunciou ao cargo no domingo (10) por exigência das Forças Armadas do país, que enfrenta uma onda de protestos e violência desde as contestadas eleições de 20 de outubro, vencidas por Morales sob denúncias de fraude. Nesta terça-feira (12), a parlamentar oposicionista e segunda vice-presidente do Senado Jeanine Áñez declarou-se presidente do país.
Após a saída do chefe de Estado e da renúncia dos políticos que o seguiam na linha sucessória, todos de seu partido, o MAS (Movimento para o Socialismo), a Bolívia vive um vácuo de poder. Segundo Crespo, três cenários seriam possíveis. O primeiro, considerado por ele o mais "improvável", embora para ele "atualmente nada seja impossível na América Latina", é os militares assumirem o controle do governo.
Comparação com Argentina de Perón
O segundo, que o professor também avalia com ceticismo, é a convocação de novas eleições sem a presença da legenda de Evo Morales, que tem a maioria no Congresso. "Seria muito complicado realizar eleições sem a presença de metade da população. Isso foi o que aconteceu na Argentina em 1955, quando [Juan Domingo] Perón caiu. Em 1958, houve novas eleições, mas sem o partido peronista, o que levou a anos de uma guerra civil de baixa intensidade", comparou.
Crespo considera que o líder emergente Luis Eduardo Camacho, que não tem nenhum cargo político, defende essa ideia. "Querem destruir o MAS, estão ameaçando famílias e as obrigando a se exilar", disse à Sputnik Brasil.
A terceira via, considerada a mais acertada pelo professor, a realização de um novo pleito com a participação do MAS. Segundo Crespo, há inclusive chances do partido retomar o poder.
'Está claro que houve golpe'
Para o especialista, está claro que houve um golpe de estado na Bolívia com a "participação da polícia e Forças Armadas, sugerindo que Morales renunciasse". Segundo Crespo, o presidente venceu as eleições, a dúvida que existia era se realmente o presidente conseguiu os votos necessários para uma vitória logo no primeiro turno.
"Os grupos violentos que tomaram iniciativa nos últimos dias não tem nada a ver com democracia. Há um revanchismo de classe, racial e regional, por meio do separatismo de Santa Cruz de la Sierra. Grupos brancos que rejeitam a participação dos índios na política boliviana", afirmou Crespo.
Por outro lado, o professor não exime Morales, que se refugiou no México, de críticas.
"Seu principal erro foi quando perdeu o plebiscito e depois buscou validar sua participação nas eleições na Corte Suprema. Acho que esse foi sua maior irregularidade, que abriu espaço para uma oposição muito violenta".
Em novembro de 2017, o Tribunal Constitucional da Bolívia, mais alta instância do Judiciário no país, autorizou Morales a concorrer a mais uma eleição. Em janeiro de 2016, ele levou a decisão sobre uma possível nova candidatura para um plebiscito. Na ocasião, 51% dos bolivianos negaram a possibilidade dele disputar uma nova eleição.