Damasco, Moscou, Ancara e outros criticaram repetidamente os esforços dos EUA para continuarem a se manter nas zonas ricas em petróleo da Síria, afirmando que tais ações constituem uma violação flagrante do direito internacional.
Os Estados Unidos procuram separar ilegalmente territórios na margem oriental do Eufrates e criar ali um pseudo-Estado separado e ilegal, afirmou na terça-feira (12) o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, no Fórum da Paz de Paris.
"Na margem oriental do rio Eufrates, eles estão fazendo todo o possível para criar a estrutura de um pseudo-Estado, e estão pedindo aos Estados do Golfo grandes investimentos para criar uma administração local com base nas Forças Democráticas da Síria (FDS), nos curdos – nas Unidades de Proteção Popular YPG e outros, com a clara intenção de separar este pedaço de território da Síria e controlar os campos de petróleo lá localizados", comentou Lavrov.
Ao mesmo tempo, o chanceler russo acusou os EUA de proibirem seus aliados de investir na reconstrução da Síria.
"Quando se trata da reconstrução da Síria, nós, junto com o governo sírio, apoiamos o convite a todos [para participar], criando condições para a modernização da infraestrutura e o retorno dos refugiados, para que o país possa retornar a uma vida normal. Os Estados Unidos negam categoricamente a necessidade disso e proíbem seus aliados – a OTAN, a União Europeia, os países da região, de investir em qualquer projeto nos territórios controlados pelo governo sírio", disse o ministro das Relações Exteriores.
No ano passado, as autoridades sírias estimaram que entre 200 e 400 bilhões de dólares e até uma década seriam necessários para reconstruir a Síria após o conflito. Os EUA e seus aliados europeus têm se recusado a aderir ao financiamento dos esforços de reconstrução, apesar de muitos países europeus enfrentarem grandes tensões sociais devido ao fluxo de refugiados sírios para a Europa.
A questão curda
Lavrov instou os curdos da Síria a participarem do diálogo político sobre a situação no país, mas apelou aos representantes curdos para serem coerentes na sua posição.
"Se desde o início do conflito eles decidiram que podem atuar com apoio dos Estados Unidos, quando anunciaram a criação da Federação Rojava, e que os Estados Unidos dariam apoio ao seu movimento em direção ao separatismo, esta foi uma decisão deles", disse o diplomata.
"Tentamos explicar-lhes, e ao governo sírio, que é importante iniciar um diálogo entre Damasco e os curdos. Os curdos não mostraram interesse nisso. Eles estavam convencidos de que seriam sempre apoiados pelos Estados Unidos", ele acrescentou.
Lavrov lamentou que, embora as autoridades curdas tenham pedido ajuda a Moscou para iniciar um diálogo com o governo sírio, quando os EUA anunciaram sua retirada parcial em outubro, eles pareceram perder o interesse em tal diálogo depois que os EUA disseram que retornariam ao país devastado para controlar seus campos de petróleo.
"Não tenho dúvidas de que uma solução para o processo sírio só pode ser alcançada se os interesses dos curdos e de todos os grupos étnicos da Síria forem levados em conta."
Em relação aos curdos sírios, o governo de Damasco se pronunciou contra o estabelecimento de qualquer autonomia especial para os curdos do país, dada a natureza multiétnica e multiconfessional da Síria.
'Eu gosto de petróleo, nós vamos ficar com o petróleo'
Durante as últimas semanas, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse repetidamente que os EUA ficariam "mantendo" o petróleo da Síria, com o Pentágono esclarecendo que a missão militar dos EUA na Síria agora incluirá evitar que os estoques de petróleo do país caiam nas mãos de terroristas ou do governo de Damasco.
Os comentários de Trump trouxeram-lhe uma condenação generalizada, inclusive entre os oponentes no seu país, que advertiram que tomar os recursos naturais de outro Estado violaria as leis internacionais contra a pilhagem.
Comentando as afirmações do presidente Trump sobre o petróleo da República Árabe, o presidente sírio, Bashar Assad, disse que a política do presidente dos EUA não era nova, com o governo dos EUA, a CIA e outros há muito envolvidos no contrabando e pilhagem de petróleo sírio desde pelo menos 2014, em sua estimativa.