O embaixador da Colômbia em Washington foi chamado de volta para sua capital, a fim de prestar esclarecimentos sobre áudio de 24 minutos, publicado pelo jornal colombiano Publimetro. No áudio o embaixador da Colômbia em Washington, Francisco Santos, conversa com a recém-nomeada ministra das Relações Exteriores da Colômbia, Claudia Blum, sobre a Venezuela.
O embaixador diz que "Trump não vai entrar na Venezuela" e que, se Nicolás Maduro não se retirar do poder "a nossa vida vai ficar impossível".
"Tenho que inventar coisas para que eles [os EUA] mantenham a Venezuela na cabeça", disse, resumindo: "Essa é a tarefa que eu tenho em relação à Venezuela".
Para manter o assunto Venezuela no topo da agenda dos americanos, o embaixador revelou que iria organizar uma viagem de congressistas dos EUA à Colômbia, para que eles "vejam as fronteiras, vejam drogas".
"Vamos fazer isso para que Washington não perca de vista a importância da Venezuela", explicou, reclamando do déficit de atenção dos norte-americanos: "Aqui não se tem memória. Ficam incomodados com algo por dez minutos, depois passam para outro tema".
Apoio a Juan Guaidó
O embaixador relata à sua nova chefe que "a história do Guaidó está parada" e expressou esperança de "que isso volte a se mover".
"É importantíssimo construir uma coisa estratégica com a Venezuela a partir do nosso trabalho, com as embaixadas que o governo [sic] de Guaidó já está montando. Lá tem gente que eu conheço, eu trabalho muito em conjunto e te ajudo em tudo que você precisar", revelou o embaixador colombiano.
A Colômbia reconhece a autoridade do parlamentar venezuelano, Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente da Venezuela em janeiro de 2019.
'O Departamento de Estado está destruído'
O embaixador se queixa reiteradamente da falta de coordenação, imprevisibilidade e desmonte de alguns dos principais órgãos norte-americanos de condução da política externa. Segundo ele, o Departamento de Estado dos EUA, órgão equivalente ao Itamaraty brasileiro, estaria "destruído" sob Donald Trump.
"O Departamento de Estado, que era importantíssimo, está destruído, não existe", disse, acrescentando que a única figura de peso na instituição é o secretário Mike Pompeo.
Santos nota a imprevisibilidade da política norte-americana, usando como exemplo a ocasião na qual foi discutida a possibilidade de invocar o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) para justificar uma intervenção militar na Venezuela.
"Na questão do TIAR, o Departamento de Estado queria, a Casa Branca não. Eu não sei em que momento a política da Casa Branca foi modificada. Mas aqui [nos EUA], de qualquer forma, eles não conseguem entrar em acordo", lamentou.
Estratégias de intervenção na Venezuela
A futura ministra colombiana considerou algumas maneiras de interferir na política venezuelana, com o objetivo de desestabilizar o governo:
"Pachito [apelido carinhoso do embaixador Francisco Santos], me ajude a pensar. A solução não é um golpe militar, porque os militares não vão tirar ele [Maduro] do poder. Os Estados Unidos tirarem e, no final, a gente não saber no que vai dar, também não é uma opção", disse a futura chanceler colombiana.
Nesse momento, o embaixador responde dizendo que "A CIA não está se metendo. A CIA está pffff....", disse, sugerindo que a agência de inteligência norte-americana tem pouco interesse pela questão venezuelana.
"A única opção que vejo é fazer ações encobertas lá dentro [da Venezuela], para fazer ruído e apoiar a oposição que está muito isolada", disse o embaixador.
"Muito isolada, desgastada!", concorda a ministra, que lembra com pesar do "fiasco total" da operação que tentou enviar caminhões com "ajuda humanitária" da Colômbia para a Venezuela, em fevereiro do ano passado. Na ocasião, Nicolás Maduro denunciou o comboio como uma estratégia dos EUA para "justificar uma intervenção estrangeira".
"Então, é preciso pensar em uma estratégia, não sei qual será. Conversei com [...] e eles me disseram: 'Claudia, a única coisa é diálogo, mas um diálogo em que todos se encaixem'", disse Blum.
"Vou mentir para a chanceler?"
O embaixador foi chamado de volta para Bogotá pelo presidente da Colômbia, Iván Duque, para prestar esclarecimentos. Em entrevista à W Radio, o embaixador lembrou que a conversa se deu em âmbito "privado".
"O que me preocupa é que o áudio está perfeitamente audível, isso quer dizer que foi gravado do meu telefone", assegurou.
Santos também conta que ele e a nova chanceler estavam em um local reservado no hotel Mandarin de Washington: "Estávamos sozinhos".
O embaixador justificou as suas declarações, notando o objetivo da conversava com a sua chefe, nesse caso a chanceler da Colômbia, era descrever o estado das relações entre os EUA e a Colômbia:
"Vou mentir para a chanceler? Eu não sou uma pessoa de dizer mentiras, é uma pena, mas eu tenho que dizer-lhe a verdade", declarou.
Quando questionado sobre a possibilidade de renunciar ao posto, Santos afirmou que não o faria, lembrando que a decisão cabe ao presidente da Colômbia.