A razão pela qual diversos grupos tomaram as ruas no Irã reside na penúria econômica que o país enfrenta e nas medidas recentes do governo de Rouhani, que introduziu cotas para a aquisição de gasolina: 60 litros por mês.
Como se não fosse o bastante, a administração subiu o preço do combustível de 10 mil riais iranianos (0,13 dólares) para 15 mil (em torno de 0,2 dólares). Se um cidadão excede a cota mensal, um litro de gasolina custará 30 mil riais – cerca de 0,4 dólares.
Esta situação enfureceu boa parte da população iraniana, especialmente porque Teerã possui uma das maiores reservas de petróleo do mundo. Porém, também se registraram manifestações em apoio às autoridades.
O próprio governo iraniano explicou que o aumento busca arrecadar divisas para subsidiar 18 milhões de famílias iranianas. O presidente Rouhani declarou que o aumento será "bom para os iranianos que sofrem problemas econômicos". Ao mesmo tempo, o governo já havia prometido ajudar os setores da população que mais sofrem a alta do preço da gasolina.
Apesar das explicações do governo, as manifestações se propagaram pelo país. Em 17 de novembro, os protestos se estenderam a 100 localidades em diferentes partes do país. Rapidamente, as atividades dos manifestantes se converteram em verdadeiros distúrbios: começaram a incendiar dezenas de lojas e bancos.
Para limitar a propagação dos distúrbios e dificultar sua coordenação, as autoridades persas cortaram o acesso à Internet. A maior parte da população não tem acesso à rede desde 16 de novembro. Atualmente, a conexão foi parcialmente reestabelecida.
Papel dos Estados Unidos
Os problemas econômicos do Irã são uma das causas principais do descontentamento social, tendo se agravado com as sanções que os EUA impõem dede 2018. As retaliações econômicas prejudicam principalmente o setor de hidrocarbonetos, pilar da economia iraniana. Washington proibiu a venda do petróleo cru iraniano e seus derivados.
Além do mais, foi proibida a venda de aeronaves ao Irã, a realização de transações com instituições financeiras iranianas, incluindo o banco Central, assim como o uso de portos e embarcações do país com fins comerciais.
Tudo isso significa que Washington exerce pressão sobre o Irã para conseguir seus objetivos próprios. E, de fato, já o conseguiu, pois os protestos atuais são os mais sangrentos desde os últimos anos. Em uma entrevista à Sputnik, o especialista russo em matéria de Oriente Médio Boris Dolgov analisou as ações dos norte-americanos.
"Não é nenhum segredo que os Estados Unidos há muitos anos realizam uma política de pressão política, militar e econômica contra o Irã. É óbvio que procuram desestabilizar a situação no país. O lado norte-americano nem mesmo trata de ocultar suas intenções", declarou.
Depois do início dos protestos no Irã, a Casa Branca se solidarizou com os manifestantes iranianos. O entrevistado observa que os EUA buscam separar artificialmente a população persa de seu governo e incitam ao povo que lute contra o regime.
Segundo as próprias autoridades do país persa, os EUA apoiam grupos internos que têm como objetivo desestabilizar o país.
Conseguirá o aiatolá manter o poder?
O descontentamento popular observado nos anos anteriores pode ser comparado com os distúrbios atuais porque têm uma base econômica. Em muitos aspectos são semelhantes, mas os de agora contam com um enorme número de vítimas.
"Contudo, apesar de todas as adversidades, tudo indica que o governo conseguirá manter-se no poder, dado que uma parte significativa da sociedade apoia o sistema político estabelecido pelos aiatolás. Por outro lado, as autoridades iranianas realizam uma política coerente ao combater os efeitos negativos das sanções norte-americanas", indicou o entrevistado russo.
Outro fator importante da sustentabilidade do governo é a existência de formações militares e paramilitares no país, como o Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica, que tem o dever de defender a ordem constitucional atual, e a Força de Resistência Basij, que conta com milhões de voluntários em todo o país.