Em entrevista coletiva em Washington, o ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, se exaltou ao se lembrar do recém-liberado da prisão, Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com Guedes, Lula estaria chamando o povo para fazer "quebradeira" nas ruas.
"É irresponsável chamar alguém para rua agora para fazer quebradeira. Para dizer que tem que tomar o poder. Se você acredita em uma democracia, quem acredita em uma democracia espera vencer e ser eleito. Não chama ninguém para quebrar nada na rua. Ou democracia é só quando o seu lado ganha? Quando o outro lado ganha, com dez meses você já chama todo mundo para quebrar a rua? Que responsabilidade é essa? Não se assustem então se alguém pedir o AI-5. Já não aconteceu uma vez? Ou foi diferente?", declarou Guedes, na noite de terça-feira (25), em Washington.
Não demorou muito para Guedes voltar atrás e dizer ser "inconcebível" pensar em um ato de repressão da ditadura militar.
"É inconcebível, a democracia brasileira jamais admitiria, mesmo que a esquerda pegue as armas, invada tudo, quebre e derrube à força o Palácio do Planalto, jamais apoiaria o AI-5, isso é inconcebível. Não aceitaria jamais isso."
As palavras de Guedes não param de ser ecoadas no Twitter, fazendo com que "AI-5" chegasse ao topo dos assuntos mais comentados desta terça-feira (26). Já eram mais de 70 mil tweets até a publicação desta matéria. Confira algumas reações de internautas.
O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-SP) acredita que o governo Bolsonaro "está com medo", por isso usa violência.
Seria evolução de Pokémon?
Quê? Capitalismo está evoluindo! Parabéns! Seu capitalismo evoluiu para fascismo!
A escritora Marcia Tiburi acredita que o ministro Guedes use AI-5 para "disfarçar sua incompetência para resolver os problemas da economia brasileira".
O cartunista Carlos Latuff postou uma charge sua de Eduardo Bolsonaro desenterrando o AI-5 da cova da ditadura.
A política Manuela d'Ávila classifica Paulo Guedes como "fã de Pinochet".
As palavras de Guedes ganharam apoio de muitos internautas pró-Bolsonaro.
Há quem espere que as multidões que saiam às ruas sejam "sufocadas no cacete".
Após declaração de Guedes sobre AI-5, o apresentador Milton Neves citou as palavras do jornalista Flávio Gomes: "Agora o Brasil decola para valer."
A 'ressurreição' do AI-5
O primeiro a citar o Ato Institucional Número Cinco (AI-5) para conter radicalização da esquerda no Brasil foi o filho do presidente do Brasil Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, que é também deputado federal pelo PSL de São Paulo.
Eduardo Bolsonaro pediu desculpas posteriormente por ter citado o ato considerado mais duro da ditadura militar.
Elaborado em 13 de dezembro de 1968, o AI-5 deu poder ao então presidente da República, Artur Costa e Silva, de fechar o Congresso Nacional e as Assembleias Legislativas estaduais, fazendo com que ele assumisse o poder legislativo, abriu as portas para o governo federal intervir em estados e municípios, liberou a censura de música, cinema, teatro e televisão, suspendeu o habeas corpus por crimes de motivação política e muito mais.