Além de Narcos: o que acontecerá se Trump classificar cartéis mexicanos como 'terroristas'?

O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que pretende designar os cartéis mexicanos como "organizações terroristas" por sua participação no tráfico de drogas e pessoas. A Chancelaria mexicana teme que a medida "viole a soberania" do país latino-americano.
Sputnik

Em uma entrevista com o analista conservador Bill O’Reilly, concedida na noite de quarta-feira (27), o presidente dos EUA afirmou que está trabalhando na ideia há três meses.

"Estou trabalhando nisso nos últimos 90 dias. Sabe, não é tão fácil designar [uma organização como terrorista], é necessário passar por todo um processo, e nós estamos nesse processo", declarou Trump.

Classificando estes grupos como "terroristas", os EUA poderiam impor sanções a pessoas ligadas aos cartéis, assim como efetuar o bloqueio de ativos.

"Olhe, estamos perdendo 100 mil pessoas por ano", afirmou, referindo-se ao número de mortes causadas pelo tráfico de drogas. "[Os cartéis] têm dinheiro ilimitado, porque é dinheiro proveniente de drogas e de tráfico humano".

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Ao ser perguntado se "começaria a atacá-los com drones ou coisas parecidas", o presidente objetou:

"Não quero dizer o que vou fazer, mas sim, eles serão designados [como organizações terroristas]", concluiu.

O que muda na prática?

Classificar os cartéis como Organizações Terroristas Estrangeiras (FTO, em sua sigla em inglês) é uma medida que pode mudar o caráter das relações bilaterais EUA-México.

A consequência imediata da designação de organizações como "terroristas" é a proibição de qualquer entidade ou cidadão norte-americano fornecer "apoio material ou recursos" ao grupo catalogado como FTO.

"Quando um grupo é classificado como terrorista, todas as agências do Departamento do Interior ficam obrigadas a combatê-lo. Estamos falando da Agência Central de Inteligência (CIA), do Bureau Federal de Inteligência (FBI) e do Departamento de Controle de Narcóticos (DEA)", disse o especialista em segurança Alexei Chávez à RT.

A classificação pode fornecer base jurídica para intervenções unilaterais dos EUA em território mexicano. Washington poderá efetuar desde ataques 'cirúrgicos' com drones até operações de Forças Especiais.

"Com esta definição, os EUA se tornam capazes de interferir unilateralmente em território nacional [mexicano]. O que eles estão fazendo? Ataques sistemáticos e cirúrgicos com drones, operações com seus grupos de Forças Especiais", disse.

A medida pode repercutir no comércio bilateral entre os países, que são parceiros no âmbito do acordo de livre comércio NAFTA:

"Em matéria de comércio bilateral, podemos esperar restrições também nas fronteiras, um endurecimento das aduanas norte-americanas, uma maior supervisão também de parte do sistema bancário norte-americano", concluiu.

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A lista de FTOs é elaborada pelo Departamento de Estado dos EUA (equivalente ao Itamaraty brasileiro) e inclui organizações como a Guarda Revolucionária Islâmica do Irã, o Boko Haram e o grupo paramilitar colombiano Autodefesas Unidas da Colômbia.

'Violação da soberania'

Em comunicado de imprensa emitido pela Secretaria de Relações Exteriores (SRE) do México na noite de terça-feira (27), o órgão afirma que irá buscar um "encontro de alto nível o mais breve possível" para obter esclarecimentos e expressar a posição mexicana sobre a medida.

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A Chancelaria considerou que a medida pode representar uma ameaça à soberania do país.

"O México não admitirá nunca nenhuma ação que represente uma violação de sua soberania nacional. Agiremos com firmeza", disse o chanceler Marcelo Ebrard.

De acordo com o informe, o governo mexicano promoveria o "diálogo e um plano de ação" para dialogar sobre temas como o fluxo de armamentos e dinheiro provenientes dos EUA, assim como sobre o fluxo de narcóticos oriundos do México.

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