Após 20 anos de espera, os habitantes da ilha de Bougainville, na Oceania, poderão votar em referendo que definirá se a região se torna independente da Papua Nova Guiné. Caso as expectativas se confirmem, em meados de dezembro, Bougainville deve se tornar o 194º Estado independente do mundo.
"Estou muito feliz que o meu sonho de empoderar o povo de uma forma democraticamente apropriada foi realizado", disse o atual presidente da ilha, John Momis, ao jornal britânico The Guardian.
Durante duas semanas, os habitantes de Bougainville poderão votar. Os resultados do referendo devem ser anunciados em meados de dezembro. As expectativas são de vitória avassaladora da independência.
"É óbvio que as pessoas estão agora com vontade de comemorar, e eu vou me juntar a elas, uma vez que elas têm o direito de comemorar", acrescentou Momis.
A celebração do referendo é um desafio organizacional, uma vez que 90% da população vivem na zona rural.
A comunicação na ilha é escassa: não há rede de rádio ou televisão que atenda a toda a população, e somente cem cópias de jornais oriundos da Papua Nova Guiné chegam à ilha diariamente.
Autodeterminação e cultura matriarcal
Do ponto de vista cultural, linguístico e geográfico, Bougainville é mais próximo do arquipélago vizinho das Ilhas Salomão do que da Papua Nova Guiné.
Bougainville tem cerca de 250.00 habitantes e 25 grupos de idiomas, espalhados por dez clãs diferentes, que praticam o matriarcado – o que os diferencia das práticas do país ao qual pertence atualmente.
A região se tornou parte da Papua Nova Guiné por "um dos acidentes" coloniais do fim do século XIX, notou o analista Anthony Reagan.
Bougainville tentou a independência pela primeira vez logo depois que a Papua Nova Guiné se separou da Austrália, em 1975.
Foi emitida uma "declaração unilateral de Independência da República das Salomão do Norte", mas Bougainville não obteve apoio da ONU em sua luta por soberania.
Minas de cobre e ouro
Em Paguna, nas montanhas centrais de Bougainville, está localizada uma das maiores minas de cobre e ouro do mundo. Operada por empresa local em parceira com a multinacional australiana Rio Tinto, as minas foram fonte vital de recursos para Papua Nova Guiné entre as décadas de 70 e 80, gerando 44% das divisas do país.
"Quero nos ver produzindo nossos próprios produtos. Temos toneladas de recursos naturais, boas terras e ótimos fazendeiros, então precisamos tomar posse disso, a começar por essa votação", disse o habitante da ilha Moses Seropa, que participou do referendo no sábado (23).
A exploração da mina, no entanto, trouxe sérias consequências ambientais e sociais, além de poucos recursos para a população local.
Grave crise em torno da exploração da riqueza levou a uma guerra civil, em 1988, caracterizada como "o mais letal, sanguinário e destrutivo conflito no Pacífico Sul desde a Segunda Guerra Mundial", segundo John Momis.
Em 2001, como parte do processo de paz que pôs fim às hostilidades, um referendo foi prometido ao povo de Bougainville, para que pudessem optar pela independência da Papua Nova Guiné ou por maior autonomia.
O referendo está sendo celebrado desde sábado (23) e está previsto para encerrar no dia 7 de dezembro de 2019. Os resultados devem ser divulgados em meados do mês de dezembro.