Greta foi recebida com muito entusiasmo e apoio, não apenas dos lisboetas, mas de vários grupos ativistas pelo meio ambiente e de políticos portugueses. O prefeito de Lisboa, Fernando Medina, destacou a importância da luta de Greta, que considera ser "alvo de muita crítica e de muita incompreensão". "É um grande privilégio ter você aqui, que é uma das vozes mais marcantes lutando por todos nós", disse Fernando Medina em discurso após a chegada de Greta.
A jovem também falou ao público e respondeu perguntas dos jornalistas. Greta se disse muito feliz e agradeceu pela "calorosa recepção". O posicionamento crítico se manteve forte. "Nenhum país do mundo está fazendo o suficiente" pelas causas ambientais, disse a ativista. "Todas as pessoas têm que fazer o que puderem para garantir que estão do lado certo da História. Para alcançarmos a mudança precisamos de todos. Espero que cada um de vocês se engaje e comece a lutar pelo futuro também", acrescentou.
Amazônia em pauta
Questionada sobre as condutas dos presidentes Jair Bolsonaro, que acusou o ator Leonardo DiCaprio de financiar as queimadas na Amazônia, e Donald Trump, que já faz inúmeras críticas a ela própria, Greta disse que é um reflexo esperado.
"Quando as pessoas que têm o poder te criticam dessa forma, isso significa que você está causando impacto e que está trazendo mudança. Muitas pessoas não querem isso e é claro que elas farão o possível para evitar que a mudança aconteça. Mas as outras continuam a fazendo acontecer. Nós vamos garantir que eles terão que mudar", disse a ativista.
Minutos antes de Greta, um outro jovem trouxe o discurso de proteção à Amazônia para o centro das atenções. "O mundo precisa saber que a Amazônia está sendo assassinada", disse ao público o estudante brasileiro Abel Rodrigues, de 19 anos.
Natural do Pará e de descendência indígena, Abel mora em Portugal há um ano. O estudante entrou em contato com os organizadores da recepção de Greta, com o propósito de entregar uma carta para a ativista. Acabou convidado para dividir o palco com ela.
"Minha carta alerta para o que está acontecendo lá. Um ecocídio, porque estão acabando com a maior floresta do mundo, e também um genocídio, porque a população nativa está sendo morta. Não só pela violência local, mas pelo própria atividade ilegal de madeireiros. Eu gostaria que a carta ajudasse a reforçar essa mensagem, acredito que a Greta pode fazer isso", contou Abel à Sputnik Brasil.
Entre o público também se viam outros pedidos de proteção à Amazônia. O Coletivo Alvito, grupo que tem como um dos fundadores a atriz Lucélia Santos, convocou os presentes para assinarem uma petição pública online, que será entregue ao Parlamento português. “Pedimos um posicionamento claro do governo português em relação a essa questão. A gente precisa muito da pressão externa, que eles fiquem de olho no que está acontecendo lá”, disse à Sputnik Brasil Silvana Ferreira, integrante do coletivo.
Greta Thunberg já demonstrou preocupação com a Amazônia anteriormente. Em agosto, logo depois de desembarcar no Estados Unidos, disse que a situação das queimadas era "desastrosa". Em Lisboa, deixou claro que quer fazer as vozes "da região sul do planeta" serem ouvidas.
Conferência do clima
Originalmente, a COP 25 deveria ter sido realizada no Brasil, mas em novembro de 2018 o presidente Jair Bolsonaro alegou falta de recursos e decidiu que o país não receberia o evento, que passou para o Chile.
Greta saiu da Europa em agosto com destino aos Estados Unidos, também em uma embarcação, para evitar a poluição causada por aviões. Lá, fez um forte discurso na Cúpula do Clima, no dia 23 de setembro. O objetivo era seguir para o Chile, mas o cenário de instabilidade no país fez com que o evento fosse transferido para a Espanha. "Parece que dei meia volta ao mundo na direção errada", escreveu Greta na época em seu perfil no Twitter.
Na abertura da COP 25, nesta segunda-feira (2), o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, convocou todos os países a "ultrapassarem as suas atuais divisões e a encontrarem um entendimento comum" para combater as alterações climáticas.
A conferência reúne representantes de cerca de 200 países e vai até o próximo dia 13. Ao contrário do que estava previsto, Greta decidiu passar mais alguns dias em Lisboa antes de seguir para Madri. A viagem, desta vez, será por terra firme, de trem.