A cúpula sediada em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, contou com a presença do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, do presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, do presidente da Argentina, Mauricio Macri e a vice-presidente do Uruguai, Lucia Topolansky.
Durante o encontro, o Brasil passou a Presidência do bloco para o Paraguai. O país agora ficará seis meses à frente do bloco e defendeu a ampliação do comércio entre os países do bloco além da busca pela integração regional através da atividade comercial.
Avanços comerciais
Na avaliação de Paulo Velasco, professor de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), apesar da ausência do Alberto Fernández e Luis Lacalle Pou - recém eleitos presidentes de Argentina e Uruguai, respectivamente - a cúpula obteve resultados positivos, em especial, para a facilitação de comércio entre os membros.
"Significa basicamente a desburocratização de procedimentos aduaneiros, ou seja, reduzir a papelada que tem que ser cumprida por exportadores e importadores", explica em entrevista à Sputnik Brasil.
Velasco acrescenta que a temática vinha sendo tratada no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC).
"É um tema que já vem sendo discutido no âmbito da há algum tempo na OMC - a própria OMC já conseguiu chegar a um acordo facilitação de comércio e faltava ainda ao Mercosul se ajustar a esse tema", aponta.
Nesse âmbito, o Brasil assinou um acordo com Paraguai e Argentina para o setor automobilístico, liberando o comércio de veículos e autopeças. Um acordo do mesmo tipo já existia com o Uruguai. Esse seria um passo para integrar o setor às normas do Mercosul.
Durante o encontro foram firmados outros diversos compromissos, como um acordo para a proteção mútua de indicações geográficas dos estados partes do Mercosul; um contrato de administração fiduciária Mercosul-Fonplata; um acordo sobre reconhecimento recíproco de assinaturas digitais; um novo anexo sobre serviços financeiros do protocolo de Montevidéu sobre comércio de serviços; além de um acordo de cooperação fronteiriça policial e de cidades gêmeas, que inclui saúde, educação, transporte e identidade.
Além disso, também foi acertado um acordo de alcance parcial, a ser protocolado na Associação Latino-Americana de Integração, para a facilitação do transporte de produtos perigosos.
Incerteza no Mercosul passa por relação Brasil-Argentina
O Mercosul é atualmente composto por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai e é o mais importante bloco econômico da região. Apesar disso, passa por uma crise devido não só a problemas econômicos como também a questões políticas na região. Para Paulo Velasco, o bloco tem um futuro "incerto".
"O futuro é incerto e tem sido incerto já há algum tempo. É difícil a gente projetar de maneira precisa para onde vai caminhar o Mercosul", afirma.
O especialista ressalta que a relação entre Brasil e Argentina será fundamental para definir esse futuro, pois os países são considerados os pilares do bloco. A Argentina é o maior parceiro comercial do Brasil na região o terceiro no mundo. Porém, o comércio entre os países vem desacelerando, como mostram dados do Ministério da Economia do Brasil.
Para o especialista essa situação se deve às crises econômicas de ambos os países nos últimos anos, o que é mais grave no caso da Argentina, que recentemente pediu moratória ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Diante desse cenário, ele recorda que o desenvolvimento de crise na Argentina será fundamental para o Mercosul.
"O cenário é muito caótico em termos econômicos na Argentina. O Alberto Fernández terá um dever de casa complicado pela frente", aponta.
Porém, a questão econômica é só parte do problema, uma vez que o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, tem demonstrado antipatia com o presidente eleito argentino. Isso porque Fernández, de centro-esquerda, é tratado como adversário ideológico pelo atual presidente brasileiro. Um exemplo é a simpatia do argentino com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Entre os episódios dessa relação, Bolsonaro, que apoiou abertamente a candidatura de Mauricio Macri à reeleição, se recusou a ir à posse de Fernández, que venceu o atual presidente. Para Velasco, diante da importância da relação entre os países e da tensão bilateral, resta "torcer".
"O que podemos fazer é torcer para que prevaleça uma lógica pragmática, para que o pragmatismo prevaleça sobre posições ideológicas", comenta.