Presente versus Passado: entenda como vestígios únicos do Império Romano correm risco na Grécia

Obras de extensão do metrô da cidade grega de Tessalônica põem sob risco de destruição restos de construções romanas enquanto sociedade grega se divide sobre o assunto.
Sputnik

Berço e palco das civilizações grega e romana, a cidade de Tessalônica, no norte da Grécia, se tornou foco de um debate que ilustra o embate entre o passado da cidade e a modernização.

Conforme publicou a revista The Economist, em 2012 a escavação de uma nova estação de metrô, Eleftherios Venizelos, na cidade trouxe à tona um dos maiores vestígios do passado romano de Tessalônica: um complexo comercial que antes foi percorrido por carruagens e ocupado por latoeiros, ourives e vendedores de seda.

Para resolver a questão, aos políticos locais restaram duas opções: deixar o achado intacto e construir a nova estação fora do local ou realocar todo o complexo para uma zona o mais próxima possível do sítio original.

No entanto, com um novo governo de direita estabelecido em julho, as autoridades políticas decidiram pela realocação do centro comercial.

A razão disso seriam os altos custos das escavações, que já passaram dos € 130 milhões (cerca de R$ 596 milhões) contra o orçamento previsto de € 30 milhões (cerca de R$ 137 milhões).

Passado contra o presente

Temendo a destruição do sítio arqueológico, Yannis Kiourtsoglou, um dos guias turísticos que mostram os sítios arqueológicos, representa a divisão entre as opiniões sobre o futuro da estação.

"Se for preciso, eu ficarei frente aos tratores, tal como fez um famoso arqueólogo em 1969, quando o nosso mercado municipal romano estava para ser coberto por um horrível prédio moderno", declarou Kiourtsoglou.

Além disso, Kiourtsoglou faz parte de uma organização chamada Movimento Cidadão de Proteção da Herança Cultural, criado para impedir a destruição dos artefatos arqueológicos na estação.

Presente versus Passado: entenda como vestígios únicos do Império Romano correm risco na Grécia

Como chefe da organização figura Yannis Boutaris, ex-prefeito da cidade que durante seu governo promoveu a vinda de turistas para Tessalônica.

Disputa legal

Determinado em realocar o sítio, Kyriakos Mitsotakis, atual primeiro-ministro grego, tem empregado esforços para retirar o complexo do Conselho Arqueológico Central do país.

Por sua vez, o movimento de Boutaris já decidiu que irá recorrer ao Conselho de Estado para que se aprove uma lei que determine que a realocação de um monumento histórico seja permitida somente quando não houver outra saída.

A questão tem sido comentada no exterior. Para Paolo Odorico, acadêmico da cadeira de Estudos Bizantinos em Paris, Tessalônica possui um monumento único do Império Romano do Oriente a partir de 300 d.C., antes da conquista de Constantinopla pelos otomanos em 1453.

Por sua vez, Ted Papakostas, um arqueólogo local, acredita que o valor do sítio talvez seja melhor compreendido em gerações futuras.

"Nossos filhos talvez nos questionem a razão de deixarmos tais monumentos serem destruídos supostamente por não termos outra solução", afirmou Papakostas.

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