Ataque nuclear preventivo: EUA mantêm hegemonia ameaçando usar armas atômicas, diz analista

Doutrina nuclear do presidente americano Donald Trump expandiu as possibilidades de uso de armas nucleares por parte dos EUA, inclusive como resposta a ataques cibernéticos, revela analista.
Sputnik

A doutrina nuclear elaborada pela administração Trump, em 2018, ampliou significativamente os cenários nos quais os EUA ficam autorizados a usar armas nucleares. Notadamente, a doutrina prevê o uso de bombas nucleares em resposta a ataques cibernéticos.

O documento prevê a mobilização de novos mísseis balísticos e o desenvolvimento de ogivas nucleares de baixa potência. Para Moscou, essas medidas representariam a disposição norte-americana de utilizar armas nucleares em um futuro próximo.  

O analista militar Yuri Knutov acredita que a linguagem ambígua da doutrina nuclear de Trump daria carta branca para os EUA realizarem ataques nucleares preventivos em qualquer circunstância.

"O conceito de ataque nuclear preventivo mantém, na prática, o mundo inteiro em estado de alerta. A doutrina da Rússia, por outro lado, é muito clara: a presidência tem o direito de ordenar ataques nucleares apenas retaliatórios. A agressão nuclear está totalmente excluída", explicou Knutov.

A doutrina nuclear da China, por sua vez, adotou o compromisso de não fazer uso de armas nucleares primeiro, conhecida como doutrina do "Non-first use" (NFO, na sigla em inglês), ainda em 1964. Atualmente, a China segue como o único estado nuclear a aderir a esse princípio.

Knutov notou que a doutrina dos EUA de ataque nuclear preventivo é instrumento efetivo para a manutenção da hegemonia norte-americana:

"A fim de preservar um mundo unipolar, Washington constantemente pressiona adversários e aliados em potencial, lembrando de sua prontidão para realizar um ataque nuclear preventivo", concluiu.

O quadro se agrava pela saída dos EUA de importantes tratados internacionais de controle de armamentos, como Tratado INF, assinado entre Washington e Moscou, que proibia a mobilização de mísseis nucleares de médio e longo alcance.

Ataque nuclear preventivo: EUA mantêm hegemonia ameaçando usar armas atômicas, diz analista

Em fevereiro de 2021, expira o Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Novo START). Moscou já declarou sua intenção de renovar o tratado automaticamente por mais cinco anos, enquanto Washington ainda não definiu a sua posição.

O Pentágono alega ser necessário rever os tratados internacionais de controle de armas nucleares e modernizar o seu arsenal, em função da emergência da Rússia e China como grandes potências militares na arena internacional.

Ataque nuclear preventivo durante a Guerra Fria

A adoção da doutrina de ataque nuclear preventivo pelos Estados Unidos remonta à Segunda Guerra Mundial. Documentos recém-desclassificados dos Estados Unidos revelam plano de ataque nuclear, elaborado em 1949, contra 100 cidades da União Soviética utilizando mais de 300 ogivas nucleares.

A operação, chamada "Dropshot", seria colocada em prática em caso de agressão por parte de Moscou, que ainda não possuía armas nucleares.

Ataque nuclear preventivo: EUA mantêm hegemonia ameaçando usar armas atômicas, diz analista

Mas esse não foi o único plano elaborado pelos EUA para atacar a URSS com armas nucleares. Em 1960, foi elaborado o Plano Operacional Integrado Único (SIOP, na sigla em inglês) de ataque contra Moscou e seus aliados. O plano incluía alvos na Albânia e alertava que, após a sua execução, a República provavelmente deixaria de existir.

Especialista ouvido pelo canal RT, diz que os planos de Washington de atacar nuclearmente a URSS causaram a corrida armamentista da Guerra Fria.

"As decisões da alta cúpula do Estado [norte-americano], principalmente as de 1940, são prova da política cínica e agressiva de Washington. Sim, o embate geopolítico entre os dois sistemas [capitalista e comunista] eram inevitáveis, mas os americanos começaram a planejar ataques nucleares contra a URSS antes mesmo do fim da Segunda Guerra Mundial", constatou o general da reserva Viktor Litovkin.

Para o analista, os planos não "levavam em consideração a contribuição da União Soviética para extirpar o mal que representava o nazismo mundial".

Vladimir Vinokurov, professor da Academia Diplomática russa, acredita que atingir a paridade nuclear estratégica com os EUA foi vital para a segurança da URSS.

"No final da Segunda Guerra Mundial, os EUA começaram a se preparar para um eventual confronto com a URSS. O bombardeio nuclear de Hiroshima e Nagasaki [...] foi um sinal de alerta para Moscou. Os americanos deixaram claro que estavam dispostos a deter a expansão soviética, inclusive utilizando o bastão nuclear", disse Vinokurov.

A primeira bomba nuclear soviética, RDS-1, foi testada em agosto de 1949, no polígono de Semipalatisnk, no Cazaquistão.

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