A calota de gelo que se encontra no remoto arquipélago do Ártico russo tem estado sempre em movimento em ritmo glacial durante décadas. Porém, subitamente o gelo da calota começou a se derramar para o mar, se transformando naquilo que os cientistas chamam de surge – uma aceleração abrupta do fluxo de uma geleira.
O novo estudo publicado recentemente sugere que este processo se tornou em algo completamente diferente.
Os autores da pesquisa, publicada na revista Geophysical Research Letters, documentaram aquilo que acreditam ser a primeira observação da transição de uma aceleração abrupta de uma calota para um fluxo mais duradouro chamado corrente de gelo.
Ambos os acontecimentos científicos eram considerados como fenômenos diferentes conduzidos por mecanismos distintos. Se os autores do estudo estiverem certos, a aceleração abrupta poderia assim ser uma fase inicial de uma corrente de gelo.
Se a afluência do gelo pode formar uma corrente de gelo em uma geleira como Vavilov, neste caso as demais calotas também podem sofrer de semelhantes perdas rápidas de gelo, disse Whyjay Zheng, cientista da Universidade de Cornell e o autor principal do novo estudo.
"Se isso for verdade, nós provavelmente teremos que reavaliar nossas previsões do impacto do aumento global no nível do mar no futuro", disse o pesquisador.
"Se você olhar para as imagens de satélite, parece que toda a ala ocidental da calota está sendo descarregada no mar. Nunca ninguém tinha visto nada semelhante", disse Zheng.
A aceleração abrupta do fluxo de gelo na calota de Vavilov começou em 2013, e até à primavera de 2019 a calota perdeu 9,5 bilhões de toneladas de gelo, os seja 11% da massa do gelo de toda a bacia glaciar.