Os processos que decorrem no núcleo afetam a vida geológica do planeta em geral, definindo o caráter do campo magnético da Terra e da tetônica global. Durante décadas os cientistas tentaram encontrar uma explicação para o fato de as ondas elásticas que se propagam nas profundezas do nosso planeta desacelerarem de maneira estranha quando passam através das camadas inferiores do núcleo exterior.
Além disso, há uma diferença notável entre as formas como as ondas são propagadas de ambos os lados do núcleo. No hemisfério oriental a velocidade é maior do que no ocidental, como se a superfície exterior do núcleo interior estivesse coberta por algo viscoso. Entretanto, no lado ocidental a espessura desta cobertura é maior. Tudo isso condiz mal com os modelos atuais da estrutura interna da Terra.
Cientistas norte-americanos e chineses da Universidade do Texas em Austin e da Universidade de Sichuan desenvolveram um modelo que explica as características da passagem das ondas sísmicas através do núcleo. Os autores da pesquisa, publicada na revista JGR Solid Earth, supõem que o núcleo interior da Terra por cima esteja coberto por uma camada de "neve" de ferro – partículas minúsculas que se formam no núcleo exterior líquido e caem sobre a superfície do interior sólido, formando sobre ele uma camada de mais de 300 quilômetros de espessura.
Os pesquisadores comparam a formação da "neve" de ferro no núcleo exterior com o processo que ocorre dentro das câmaras magmáticas, quando determinados minerais se cristalizam e depositam no fundo da câmara.
"O núcleo metálico da Terra funciona pelo princípio da câmara magmática na crosta, que nós conhecemos bem", explica Jung-Fu Lin, professor da Universidade do Texas.
De acordo com os autores da pesquisa, essa camada de sedimento é a causa do desvio do movimento real das ondas sísmicas das previsões teóricas. A camada de "neve" retarda as ondas sísmicas, mais no hemisfério ocidental, onde é mais espessa, e menos no oriental.