"O FMI tem muita responsabilidade no que se passou, nem sequer peço uma mea culpa, peço que tenha em conta o que se passou: emprestou dinheiro a alguém que sabia que nunca ia poder devolver", disse o chefe de Estado em entrevista divulgada nesta quinta-feira (2) pela emissora Radio 10.
Recentemente, a ex-diretora da entidade, Christine Lagarde, que chefiava o Fundo quando foi feito o empréstimo para a Argentina, disse que o programa econômico elaborado em parceria com o governo do então presidente Mauricio Macri teve "efeitos colaterais", como o aumento da "pobreza e da inflação".
Segundo ela, o FMI fez o melhor que podia "quando os líderes da Argentina vieram a nós porque estavam em uma situação muito difícil".
Dinheiro para 'ganhar uma eleição'
Fernández, no entanto, não eximiu a direção da entidade de culpa. Para ele, o Fundo emprestou dinheiro ao governo anterior "para que pudesse ganhar uma eleição e pudesse ocultar o verdadeiro problema que havia, o que no tema de gestão econômica é uma vergonha".
A pobreza na Argentina subiu 6,2 pontos percentuais entre 2015 e 2019, de 34,6% para 40,8%, de acordo com o Observatório da Dívida Social da Universidade Católica.
A inflação no período, por sua vez, foi de 162,6%, com uma alta de 50% apenas no último ano, segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censos.
Novo pacto social
Para mudar essa situação, o presidente citou na entrevista o pacto de desenvolvimento assinado pelo seu governo, empresários, sindicatos e movimentos sociais em 27 de dezembro, pouco após tomar posse, em 10 de dezembro.
"É a primeira vez na qual empresários, trabalhadores e Estado se unem para dizer aos credores: acreditamos que a fórmula para pagar não passa por seguir arrochando a economia argentina, primeiro a Argentina deve crescer para depois encarar suas obrigações", afirmou Fernández.
Em junho de 2018, o governo argentino solicitou um resgate de 50 bilhões de dólares ao FMI, que três meses depois foi ampliado para 56,3 bilhões, em troca de um ajuste nas contas públicas.
O novo governo busca prorrogar o pagamento dos juros do empréstimo do FMI, que chegou a desembolsar 44 bilhões de dólares.