Batizado de Bingo, abreviatura de Baryon Acoustic Oscillations in Natural Gas Observations, ou Oscilações Acústicas de Bárions em Observações de Gases Neutros, o aparato lembra um "rádio, só que mais sensível, sofisticado e maior", segundo o físico Carlos Alexandre Wuensche, do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (INPE).
O telescópio, que operará na banda rádio, dos 960 a 1260 MHz, está sendo desenvolvido por um consórcio internacional sob liderança do Brasil, com pesquisadores e instituições da Suíça, Reino Unido, Uruguai, China e Arábia Saudita.
O Instrumento representará um grande avanço astronômico nacional e internacional. Após a fase de estudos, o Bingo começará a ser construído neste ano, com previsão de operar com 80% de sua capacidade em 2022.
'Ao invés de observar a luz, as ondas do rádio'
"Ao invés de observar a luz, ele observa ondas de rádio", explicou o pesquisador de astrofísica do INPE, órgão que coordena o projeto ao lado da Universidade de São Paulo (USP), com parceria da Universidade Federal da Campina Grande (UFCG). A maioria dos recursos são da Fapesp (Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
"O Bingo tem como principal objetivo identificar as características de um componente do Universo chamado energia escura, que causa a aceleração de sua expansão. Cerca de 70% do Universo é formado por energia escura, da qual não conhecemos praticamente nada", disse Wuensche à Sputnik Brasil.
De acordo com o físico, essas características podem ser analisadas a partir da identificação do hidrogênio em épocas diferentes do Universo. O período estudado compreende onde nós estamos, ou seja, os dias de hoje, até a o momento em que o Universo tinha metade da idade atual (14 bilhões de anos).
'Tomografia do Universo'
"Nosso radiotelescópio consegue medir emissões de hidrogênio, que é o elemento mais comum do Universo, o primeiro elemento da tabela periódica. Esse elemento permite verificar a oscilação da distribuição da matéria", afirmou.
O projeto fará uma espécie de "tomografia do Universo", que permitirá analisar a distribuição do hidrogênio ao longo do tempo e entender como a anergia escura atua.
O Bingo é composto de duas antenas parabólicas, uma de 40 metros e outra de 34 metros de diâmetro, que ocupam uma área maior do que meio campo de futebol. Elas são ligadas a receptores com mais de quatro metros de comprimento.
"Ele tem uma vantagem competitiva por não exigir motor, é fixo. As antenas apontam para uma certa região do céu e, ao longo do dia, o céu vai passar na frente do telescópio e ele vai ver sempre a mesma região, na mesma hora do dia, a cada dia. O objetivo é observar repetidamente, sem o mínimo de interferência, a mesma região. Quanto mais tempo olhar, melhor para identificar a oscilação acústica de bárions", esclareceu.
Sertão da Paraíba foi melhor lugar encontrado
O alto sertão da Paraíba, mais especificamente uma região chamada Serra da Catarina, próximo à cidade de Aguiar, foi escolhido por seu um local de difícil acesso, após uma peregrinação por Uruguai, Rio Grande do Sul, Goiás, São Paulo e Bahia.
"A Paraiba foi o último e o melhor local que encontramos, com a menor quantidade de interferência de rádio. A faixa que o Bingo vai estudar é uma faixa de aeronavegação, não é restrita a radioastronomia, então existe a proximidade de celulares, o transponder de aviões, telecomunicações de satélites estacionários, isso atrapalha bastante. A região escolhida minimiza os efeitos desses vários ruídos que prejudicam a observação”, disse o pesquisador.