'Rei dos Ares': confira por que Rússia não abdica do 'velho' Su-24

Comemora-se hoje o cinquentenário do voo experimental do protótipo do caça-bombardeiro supersônico Sukhoi Su-24.
Sputnik

Foi em 17 de janeiro de 1970, há exatos 50 anos, que se estreou nos céus o T6-2I, o protótipo do futuramente lendário caça-bombardeiro supersônico Su-24, relembra a Sputnik.

Dotado de sistemas digitais integrados e sofisticados de navegação e ataque e se destacando por sua elevada versatilidade, o "24", como foi apelidado, tem um longo historial operacional, tendo participado em inúmeros conflitos militares. É ainda hoje o "quebra-galho" da aviação russa de ataque tático.

Uma nova geração

Data do princípio da década de 60 do século passado o início do desenvolvimento pela URSS de uma nova aeronave de ataque para uso diurno e noturno. Na primeira fase, Pavel Sukhoi e seus engenheiros e técnicos do Escritório de Projetos Experimentais Sukhoi optaram por modernizar caças-bombardeiros táticos já existentes, sobretudo o Su-7. No entanto, rapidamente concluíram que o Su-7 pelas suas dimensões não conseguiria acomodar toda a parafernália dos novos equipamentos de ponta.

Técnicos começaram então desenvolvendo um avião experimental, o T-58, que fosse apto para decolar e aterrissar em pistas curtas, o que era um dos requisitos exigidos pelo Ministério da Defesa da URSS. O protótipo foi dotado de potentes motores auxiliares que lhe permitiam encurtar para metade suas necessidades de distância de pouso e decolagem. Mas depressa o T-58 seria posto de parte por os gases emanados desses motores aquecerem a fuselagem.

'Rei dos Ares': confira por que Rússia não abdica do 'velho' Su-24

Um novo projeto, agora em 1967, o T-6, se basearia em pressupostos completamente novos. Os motores auxiliares foram abandonados e para se poder cumprir as exigências de decolagem e pouso em pistas curtas os engenheiros projetaram asas de geometria variável, que podiam variar em abertura de 16 a 69 graus.

Assim, durante a decolagem e o pouso, os painéis das asas se expandem o máximo possível, enquanto para acelerar até velocidades transônicas e supersônicas elas contraem-se. Ao contrário do protótipo anterior, em que os pilotos voavam em cabines individuais, no T-6 os dois pilotos se sentavam lado a lado, facilitando dessa forma a interação entre eles.

Voar em quaisquer condições

Em fevereiro de 1975, depois de vários anos de experimentos, o T-6 foi colocado em serviço da Força Aérea soviética com o código Su-24. Foi a primeira aeronave militar soviética de ataque tático ao solo para uso diurno e noturno e em quaisquer condições climáticas.

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O novo caça-bombardeiro estava dotado de tecnologia de ponta inovadora para a época, como o sistema de navegação e pontaria Puma, composto por 10 subsistemas. Este poderoso computador dirigia o avião para o local pretendido, uma vez introduzida a rota, assegurava automaticamente o retorno à base, a aproximação à pista e voos a baixa altitude contornando o terreno.

"A alta velocidade o Su-24 pode voar a 900, a 1.200 km/h ou mesmo em voo supersônico em modo manual, por comandos ou automático", declarou à Sputnik o piloto emérito da Rússia Vladimir Popov. "Na época isso era muito importante, pois o Su-24 poderia transportar munição não só convencional como também nuclear. No fundo, os projetistas conseguiram criar uma aeronave pioneira que cumpria ao mesmo tempo funções de caça-bombardeiro, de avião de reconhecimento e de aeronave de guerra eletrônica."

Pelo fato de a fuselagem ser constituída por painéis metálicos lineares e não rebitados, o Su-24 se revelou muito fiável e duradouro. Ele está apto a efetuar complexas manobras acrobáticas evasivas para se furtar a ataques de mísseis e de caças inimigos. A aeronave se comporta muito bem em modo de voo picado, pode bombardear desde grandes altitudes, inverter a marcha e fazer manobras de subida oblíquas (looping), eliminar estações de radar inimigas, neutralizar suas baterias de defesa antiaérea e eliminar outros alvos em terra ou no mar.

No final da década de 80 do século passado surgiu uma versão modernizada: o Su-24M. Para além de o avião passar a poder ser reabastecido em voo, os sistemas de navegação e de pontaria foram atualizados, bem como o armamento. O "M", como era apelidado, podia ser equipado com mísseis teleguiados, bombas de queda livre ou guiadas, mísseis ar-ar, bombas de fragmentação e munição não guiada. O avião comporta 8 toneladas de material de combate.

Nas palavras de Popov, o "24" é um avião deveras peculiar, sendo sua pilotagem ao mesmo tempo simples e difícil. Medindo 20 m de comprimento e pesando, com os tanques vazios, aproximadamente 20 t, tal não o impede de voar como um caça ou como bombardeiro, podendo disparar mísseis ar-ar.

"Fomos treinados para atacar igualmente alvos aéreos de baixa velocidade, como aviões de transporte, de assalto ao solo como os americanos A-7 ou A-10 e helicópteros." Contudo, assevera o piloto, esses mísseis são usados preferencialmente para autodefesa.

Um veterano dos ares

O avião foi produzido até meados dos anos 80 do século passado. Da linha de montagem saíram cerca de 1.500 unidades, tendo ele participado de todos os conflitos em que se envolveu a URSS e mais tarde a Rússia e sendo exportado com sucesso à África, Oriente Médio e Ásia. Na Síria, por exemplo, o Su-24 infligiu muitos golpes certeiros contra posições dos militantes.

O bombardeiro se revelou uma aeronave fiável e capaz de operar em condições climáticas extremas, tanto para além do Círculo Polar Ártico como nas regiões áridas meridionais.

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Apesar de todos os anos entrarem em serviço na Rússia cada vez mais caças-bombardeiros novos Su-34, o OKB Shukoi continua empenhado na atualização sistemática do Su-24. Tudo indica que este continuará a servir ainda por muitos mais anos. Popov referiu que será muito difícil abater este avião ao serviço enquanto ele for capaz de cumprir todas as suas missões com recurso a pontuais e pouco dispendiosas atualizações.

Já o irmão "gémeo" americano do Su-24, o F-111, projetado sensivelmente na mesma altura, seria colocado de parte e substituído pelo F-16.

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