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Intolerância religiosa no Brasil: 'Jesus não era sectário', diz estudioso

No Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, a Sputnik Brasil aproveita a data para falar com dois estudiosos sobre uma das faces da violência no Brasil: a perseguição religiosa. 
Sputnik

De janeiro a outubro de 2019, a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa levantou que 176 terreiros foram fechados no Estado do Rio de Janeiro após ataques ou ameaças de traficantes. O levantamento foi originalmente publicado em reportagem da revista Época. 

Ainda de acordo com a reportagem da revista Época, um grupo de traficantes conseguiu fechar, pela violência, todos os seis terreiros do Parque Paulista, bairro da cidade de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. O mesmo bairro abriga 15 igrejas evangélicas.

O professor de sociologia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) José Cláudio Souza Alves avalia que há uma disputa por fiéis entre diferentes grupos religiosos e que as religiões evangélicas e africanas têm pontos em comum.

"Há em comum entre o pentecostalismo e as religiões de matriz africana a dimensão fortemente mágica, da forma religiosa de existir e atuar no mundo. Isso é próprio das religiões da diáspora negra, africana. O pentecostalismo é criado em 1906 em Detroit por negros e depois se espalha pelo mundo", diz Alves à Sputnik Brasil.

O professor da UFRRJ também destaca que há setores do campo pentecostal que buscam "demonizar" as religiões africanas e que alguns fiéis evangélicos ouvem esse discurso como "uma espécie de apoio ou estímulo à prática [de violência]".

"O que restou na disputa social de projetos para vidas de jovens que estão envolvidos diretamente com o tráfico, o que restou foram as igrejas, então elas vão criar vínculos muito fortes com os traficantes para tirá-los dessa dimensão [do crime]", afirma Alves. "Na década de 1990 chegamos a ter quatro igrejas evangélicas sendo inauguradas por semana na Baixada Fluminense".

O professor de Ciência da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Jorge Claudio Ribeiro ressalta a contradição de um grupo que supostamente reivindica Jesus realizar atos violentos.

"O país não tem uma religião oficial, então essa intolerância parte de grupos ativos e crescentes. Mas que não representam de modo algum a mentalidade e atitude do povo brasileiro. Considero que atacar a religião de outros, ainda mais em nome de valores cristãos, é um contrassenso", diz Ribeiro à Sputnik Brasil. "Jesus não era sectário".
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