Sicília, uma ilha italiana no Mediterrâneo, pode ser conhecida pela sua máfia, mas de forma mais discreta ao mundo, e menos para seus habitantes, hoje alberga uma base aérea norte-americana em Sigonella, que enfrenta oposição de diversos grupos pacifistas e ambientalistas na ilha, incluindo o prefeito de Niscemi, Massimiliano Conti.
Em entrevista à Sputnik Internacional, um ativista do grupo de protesto NO MUOS, Pippo Gurrieri, conta que a Sicília já há muito tempo é "uma espécie de 'porta-aviões' fortemente armado, usado para se envolver em conflitos em toda a região do Mediterrâneo".
Em sua opinião, a ilha está exposta ao terrorismo de grupos como o Daesh (grupo terrorista proibido na Rússia e vários outros países) como resultado da posição estratégica e militar da ilha no mar Mediterrâneo.
"Se a ação militar for gerida a partir daqui, este local se torna um alvo militar [...] Somos a fronteira mediterrânica do chamado Ocidente, e nossa região está frequentemente envolvida em conflitos."
Além disso, uma empresa associada à família mafiosa Tortorici recebeu fundos da UE para a concessão de numerosos lotes no local, incluindo o lote Sughereta di Niscemi, onde está localizado o sistema MUOS.
O ativista concorda com a especulação que a recente operação militar de assassinato do general iraniano Qassem Soleimani fosse executada com um drone que partiu de Sigonella, que alberga o mesmo tipo de drones.
"Penso que é quase óbvio porque em outubro foi anunciado que o sistema MUOS começou a operar em plena capacidade para fins militares [...] Os próprios americanos disseram que teriam uma vantagem militar em qualquer cenário militar ao serem capazes de operar com drones armados e desarmados. Então, se o sistema não está sendo usado para isso, por que ele foi instalado?", ponderou.
Reação à oposição
Em relação à reação das autoridades aos protestos, que condenaram o prefeito pela sua liderança nos protestos contra o Mobile User Objective System, MUOS, (sistema norte-americano de comunicações via satélite de próxima geração) localizado a 60 quilômetros de Sigonella, o ativista disse que no domingo (19) realizou "um protesto contra o ataque dos EUA em Bagdá", que diz ter corrido bem.
O prefeito de Niscemi relata a reação oficial aos protestos perto da base militar e do consulado dos EUA em Palermo:
"Desde o início desta luta, que para mim já dura mais de 10 anos, eles sempre tentaram esmagar os movimentos dos ativistas. Somos como paus nas rodas para aqueles que querem militarizar a Sicília sob o pretexto de aumentar a segurança da ilha. A realidade é que as bases norte-americanas nos colocam em risco de estarmos envolvidos em conflitos, o que nenhum siciliano quer."
"Protestar contra uma base militar estrangeira significa expor todas essas contradições, que geralmente são ocultadas por trás dessas decisões. O território continua sendo reforçado e militarizado, mas não é acessível no âmbito de acordos internacionais de que ninguém tem conhecimento. A população não recebeu qualquer informação, especialmente sobre os riscos para a saúde, para o meio ambiente e para todos aqueles que vivem perto dessas áreas", lamenta Pippo Gurrieri.
Luta é longa
Apesar de tudo, a utilização do local pelos EUA parece não sofrer qualquer revés. Jens Stoltenberg e altos responsáveis da aviação dos EUA visitaram na sexta-feira (17) a base siciliana para a cerimônia de entrega das duas primeiras das cinco novas aeronaves de reconhecimento RQ-4D Phoenix de última geração, que farão parte do sistema AGS (Alliance Ground Surveillance) da OTAN, para o qual a base siciliana se tornará o local de destacamento.
Neste momento planeja-se uma reunião em Niscemi, Sicília, em 8 de fevereiro, bem como uma grande manifestação nacional em 11 de abril.