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'Não devemos ser ingênuos': Brumadinho levará décadas para se recuperar, diz especialista

Neste sábado (25), o desastre de Brumadinho-MG completa 1 ano. A Sputnik Brasil ouviu um especialista que estuda o impacto do rompimento da barragem da Vale na região e explicou em que passo está a recuperação do local.
Sputnik

O rompimento da barragem em Brumadinho, em janeiro do ano passado, foi uma dos maiores desastres ambientais da história do Brasil. Como consequência do rompimento, 270 pessoas morreram e o impacto ambiental segue incalculável.

A Sputnik Brasil conversou com o ecólogo Ricardo Motta Pinto Coelho, professor visitante da Universidade de São João del-Rei, que está em Brumadinho realizando estudos sobre a recuperação do meio ambiente após o desastre. Para ele, a Vale tem feito pouco para reparar os problemas criados pelo desastre ambiental.

"Do ponto de vista de reparação de danos foi feito ainda muito pouco. O que a Vale tem feito simplesmente são medidas emergenciais de pagamento de auxílios", afirma o ecólogo em entrevista à Sputnik Brasil.

Segundo ele, as ações de pagamento de indenizações e recuperação das imediações do local do acidente ainda estão atrasadas. 

O especialista ressalta que desastres como o de Mariana, em 2015, e Brumadinho, em 2019, apontam "a necessidade muito grande de investirmos na capacitação de pessoal em todos os níveis, não só no nível técnico de segurança de barragens, mas na parte ambiental, na educação da população e também mudanças de paradigmas junto às grandes empresas".

Ricardo Motta Pinto Coelho explica que tal mudança na visão das empresas deve ser a de priorizar o meio ambiente.

"O meio ambiente, não só no Brasil em todo o mundo, deve receber prioridade absoluta. A maior lição que devemos aprender dessas duas grandes tragédias é de que o meio ambiente deve ser priorizado de uma maneira que não foi até o momento. O meio ambiente tem que entrar no planejamento macroeconômico das nas economias de todos os países", ressalta.

O especialista conta que percorreu toda a bacia do Rio Doce, impactado pelo desastre de Brumadinho, e relata que os danos são de grandes proporções.

"Alguns dos impactos são irreversíveis e outros vão demorar talvez algumas décadas [...]. Nós estamos falando aí de um espaço seguramente de uma ou duas décadas para que nós possamos ter uma resiliência ambiental para recompor esses sistemas em um equilíbrio aproximado ao que havia antes do desastre", aponta.

O ecólogo também demonstra preocupação com a desinformação sobre o caso, apontando que acompanha avaliações na mídia que minimizam o tempo necessário para a recuperação do meio ambiente diante do desastre.

"Eu tenho visto algumas entrevistas, inclusive de especialistas, dizendo que a recuperação é muito rápida, que logo o ecossistema voltaria à sua condição original. Isso absolutamente não é verdadeiro", avalia.

O professor acrescenta que tal recuperação dependerá de um longo processo e que já trabalhou em casos de poluição com metais tóxicos ocorridos na década de 1970 e que ainda não foram resolvidos.

"Nós não devemos ser ingênuos de imaginar que esses impactos vão ser superados em cinco, oito ou dez anos", explica.
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