Jeanine Áñez é alvo de críticas provenientes de todos os espectros políticos bolivianos e pelo menos um de seus ministros já renunciou, após presidente interina anunciar planos de se candidatar nas próximas eleições presidenciais na Bolívia.
Anteriormente, a senadora conservadora, que se autoproclamou presidente da Bolívia após golpe de Estado contra o então mandatário Evo Morales, declarou que não tinha ambições eleitorais, e que o único objetivo de seu governo interino era garantir que a Bolívia conduzisse eleições transparentes.
"A candidatura presidencial rompe com o papel histórico [de Jeanine Áñez] e com a credibilidade da transição", reagiu Carlos Mesa, candidato que, de acordo com o Tribunal Eleitoral boliviano, ficou em segundo lugar nas eleições presidenciais de outubro de 2019.
"O que está em jogo é a imagem internacional do país e daqueles que lutaram com convicção democrática em defesa da soberania popular", concluiu Mesa.
Durante o fim de semana, a membro do gabinete de Áñez, Roxana Lizárraga, renunciou ao cargo. Para ela, o gabinete já não tem "objetivo" e que, se a presidente interina iniciar campanha enquanto estiver no cargo, isso seria uma "traição à democracia".
No domingo (28), Áñez pediu para que seus ministros renunciassem, para que fosse instaurado um "novo estágio na transição democrática".
Em pronunciamento nesta sexta-feira (24), a presidente interina afirmou que, inicialmente, não tinha a intenção de concorrer à presidência, mas que, dada a ausência de candidatos que pudessem unificar o país, ela teria mudado de ideia.
Pesquisas mostram que o partido de Evo Morales, Movimento ao Socialismo (MAS), lidera as intenções de votos. Os votos da oposição aparecem fragmentados entre diversas candidaturas diferentes.
Áñez é bem avaliada dentre aqueles que participaram dos protestos, que culminaram no fim do quarto mandato de Evo Morales, reportou a Reuters.
"Jeanine Áñez tem o direito de se candidatar, assim como qualquer outro boliviano", disse o professor Oscar Robles, em La Paz.
No entanto, muitos discordam dessa afirmação. Outro aspirante ao posto de presidente da República e aliado do governo, Tuto Quiroga, declarou que a decisão de Áñez fere a credibilidade internacional do governo e coloca em risco o objetivo de organizar eleições livres.
"Eu não concordo com a candidatura de Áñez. Isso retira a imparcialidade das eleições", disse Remberto López, taxista em La Paz. "O povo não quer mais fraude."
O jornal local Los Tiempos também criticou a decisão de Áñez em editorial, instando a presidente interina a retirar a sua candidatura, uma vez que ela "transgrediu uma espécie de acordo tácito".
O ex-presidente Evo Morales, que se encontra refugiado na Argentina, escreveu nas redes sociais que a candidatura de Áñez seria uma prova de que ele teria sido vítima de um golpe de Estado, reportou a Reuters.
Morales não será candidato nas eleições presidenciais de 2020, mas seu partido, o Movimento ao Socialismo (MAS), apontou o ex-ministro da Economia, Luis Arce, para concorrer ao cargo.