Chuvas em BH: 'grandes obras nos levaram a esta situação' de calamidade, diz urbanista (VÍDEO)

As enchentes, deslizamentos e problemas criados pelas fortes chuvas que atingem Minas Gerais são um resultado das escolhas de urbanismo das últimas décadas, avalia especialista ouvido pela Sputnik Brasil.
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Desde a semana passada, as chuvas causaram 64 mortes em Minas Gerais. Segundo boletim desta quarta-feira (29) da Defesa Civil, a capital Belo Horizonte registrou o maior número de vítimas fatais: 13 pessoas. 

Também em Belo Horizonte a força das águas destruiu ruas, rompeu tubulações e arrostou carros. A cidade registrou seu mês de janeiro mais chuvoso da história desde o início das medições, em 1910. Foram 942,3 mm de chuva, de acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia.

A Organização das Nações Unidas (ONU) ofereceu apoio ao Brasil para lidar com os efeitos das chuvas. 

Apesar dos índices pluviométricos elevados, o urbanista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Tiago Lourenço avalia que as tragédias eram "esperadas" por conta do modelo de urbanização da capital mineira — que é repetido em diversos municípios brasileiros.

"A cidade é composta de vários córregos e se você anda por Belo Horizonte hoje, você não reconhece esses córregos porque eles ficaram debaixo de grandes avenidas e ruas da cidade", diz Lourenço à Sputnik Brasil.

O urbanista ressalta que, há décadas, os rios são colocados dentro de calhas de concreto e têm seu curso alterado. E Belo Horizonte é uma cidade rodeada de morros e montanhas, então as águas correm com velocidade. Ao diminuir o número de curvas dos rios para atender aos interesses de avenidas e dos carros, a força das águas aumenta. "Não estabelecemos um diálogo com o que a natureza apresenta", diz o professor da UFMG.

Com a chuva de terça-feira (29), o Rio Arrudas recobrou seu espaço. Ele transbordou e destruiu grande parte da Avenida Tereza Cristina, em Belo Horizonte. A vendedora Noelma Seixas trabalha em uma revenda de pneus na via e diz que ela "não existe mais" por conta da destruição do asfalto. Em entrevista à Sputnik Brasil, Seixas diz que a loja foi tomada pela lama e que o movimento caiu drasticamente por conta da destruição.

O urbanista Tiago Lourenço diz que os problemas evidenciados pela chuva precisam de soluções de longo prazo e "paciência":

"Essa retomada [da cidade] não passa por grandes obras, foram as grandes obras que nos levaram a essa situação. A retomada é um olhar atento e cuidadoso, são obras delicadas para retomar uma boa relação com a natureza", afirma.

Ainda de acordo com o professor da UFMG, os carros são uma influência negativa na construção das cidades e é necessário pensar em soluções coletivas e de transporte público. "Nós criamos espaços para os carros dentro das nossas cidades e tiramos o rio. Só que o rio continua ali", diz Lourenço.

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