As ogivas W76-2, comissionadas por Donald Trump em 2018, foram instaladas nos mísseis Trident e, segundo o relatório, podem ser encontradas no submarino nuclear Tennessee, que está patrulhando o Atlântico desde o fim do ano passado.
As ogivas têm potencial explosivo de cinco quilotons, o equivalente a um terço do poder da bomba "Little Boy", lançada pelos EUA sobre Hiroshima, no Japão.
A potência relativamente limitada da ogiva está fazendo soar os alarmes em alguns centros de pesquisa, como na FAS. Para especialistas, o baixo potencial explosivo pode aumentar a possibilidade de uso da arma nuclear em teatros de guerra contemporâneos.
Críticos da medida acreditam que ela pode acelerar o processo decisório e levar líderes a utilizar armas nucleares não mais como meios de dissuasão, mas como instrumentos legítimos para lutar e ganhar guerras.
O diretor do projeto de informação nuclear da Federação de Cientistas Americanos, Hans Kristensen, afirmou que o relatório foi baseado em relatos de membros das Forças Armadas dos EUA.
"Eles têm muita necessidade de falar sobre isso, porque, se as pessoas não souberem [da mobilização das armas nucleares], como elas poderão cumprir sua função de dissuasão?", questionou Hans.
A nova postura nuclear dos EUA, documento que delimita a política de uso e desenvolvimento do arsenal nuclear de Washington, foi revista pela administração Trump em 2018.
De acordo com o novo texto, os EUA podem utilizar armas nucleares contra "ataques estratégicos não nucleares", incluindo ataques contra "os EUA, aliados dos EUA, população civil parceira ou sua infraestrutura".
"Essa mudança de posicionamento se deu muito rápido, considerando que trata-se de uma arma nuclear. Isso, obviamente, porque foi necessário fazer um ajuste muito pequeno na ogiva que eles já tinham."
A administração Trump alega que a medida visa dissuadir a Rússia, que poderia em tese usar as suas armas nucleares táticas para atingir rapidamente a vitória no campo de batalha.
"Eles dizem que essa decisão visa dissuadir a Rússia, mas as implicações ou uso potencial contra inimigos como Coreia do Norte e Irã não podem ser descartados", afirmou Hans ao The Guardian.
"O efeito colateral de menor grau que essa arma fornece é muito benéfico para o assessor militar que precisa aconselhar o presidente sobre violar ou não a fronteira nuclear", disse Hans, intuindo que seria mais fácil optar por usar essa arma do que armas nucleares de potências superiores.
Segundo estimativas da FAS, um ou dois dos 20 mísseis do submarino Tennessee possuem novas ogivas W76-2, cada uma com uma capacidade de cinco quilotons, sendo que um único míssil pode ter várias ogivas.