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Especialista: bancada agropecuária não percebe risco que corre ao desprezar meio ambiente no Brasil

Para especialista, a questão ambiental, em conjunto com diversificação dos mercados pela China, ameaçam a economia brasileira.
Sputnik

Na semana passada, Christopher Garman, diretor geral para as Américas da Eurásia, uma das principais consultorias políticas do mundo, afirmou em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo que o Brasil tem uma reputação muito ruim quando se trata de meio ambiente e isso é cada vez mais discutido em conversas com fundos de investimentos.

O professor de Economia Ecológica da Universidade Federal do Ceará, Fábio Sobral, conversou com Sputnik Brasil sobre como isso afeta o desempenho econômico do país e o investimento estrangeiro.

Os dados do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) têm demonstrado que a gravidade do aquecimento global é muito maior do que se pensava. "Isso traz efeitos econômicos", declarou o professor.

"Alguns eventos, como crimes ambientais, como os crimes de Brumadinho e Mariana, que resultaram na morte e destruição de rios, têm provocado junto às agências de risco e os fundos de investimentos preocupações pela paralisação de atividades econômicas", destacou o entrevistado.

"Um desastre ou crime ambiental acaba por paralisar a atividade econômica por algum tempo e provoca prejuízos", acrescentou.

Como os investidores tentam evitar esses riscos ou novos investimentos submetidos a tais riscos, a imagem do Brasil ficou muito prejudicada com as atitudes do atual governo do país.

Além das queimadas na Amazônia no ano passado, muitas iniciativas foram empreendidas "para eliminar reservas, para invadir terras indígenas" e isso provocou conflitos entre o governo e ativistas "como Greta Thunberg e Leonardo Di Caprio", disse Sobral.

"As lideranças indígenas, reunidas em torno do Cacique Raoni acabaram de fazer um grande evento discutindo a defesa dos interesses indígenas na Amazônia e no mundo todo. A reunião de Davos teve como um dos temas centrais o meio ambiente. Há uma alteração na percepção de investidores, principalmente das Hedge Funds [fundos de cobertura], formadas por milhares de aplicadores. Esses fundos de investimento têm se preocupado com essa situação", declarou o especialista.

O Brasil, por outro lado, tem adotado "uma retórica agressiva contra o meio ambiente". Tem tomado iniciativas de "desmonte de agências de proteção ambiental, de vigilância. Tem destruído a possibilidade de multar. Fiscais são ameaçados e não há medidas tomadas contra isso".

"A imagem do Brasil se torna cada vez pior e os níveis de exigências internacionais quanto ao comércio se baseiam cada vez mais em elementos ambientais", alertou o interlocutor da Sputnik.

Ele destacou que esse tipo de postura começou na Europa, mas tende a ficar mais rigorosa no mundo todo, "até porque a China entrou agora pesadamente em defesa do meio ambiente interno e em breve isso se refletirá em suas exigências externas".

Brasil em risco

Para Fábio Sobral, infelizmente a atual posição brasileira em relação ao meio ambiente não deve mudar. Ele destacou que as políticas do governo gozam de "apoio no Congresso, principalmente das bancadas agropecuárias, que ainda não perceberam o risco que correm e adotam um princípio dos anos 50 da devastação ambiental sem nenhum critério".

O especialista acredita que toda medida do governo em demonstrar preocupação ecológica deverá se resumir a "uma tentativa superficial de diminuir os estragos feitos internacionalmente".

Por outro lado, o economista apontou mais uma preocupação. A China está diversificando suas importações agrícolas, fechando acordos com Argentina, com Rússia e com países asiáticos que integram a sua "nova Rota da Seda".

"Essa integração, efetivamente nos próximos 10 anos, diminuirá a dependência da China da agropecuária brasileira. Esse é um problema que se somará ao descaso e agressividade com a natureza no Brasil", alertou Sobral.

Assim, o acadêmico teme "um futuro nebuloso para a agropecuária brasileira" que tem sustentado as finanças do Brasil, "na proporção em que as suas exportações permitem manter as reservas cambiais elevadas".

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