No dia 7 de fevereiro, aconteceu a oferta pública de ações da Petrobras, detidas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na Bolsa de Valores de São Paulo (B3).
Com a operação, o banco conseguiu levantar R$ 22 bilhões. Ao todo, a oferta envolve 734.202.699 ações, precificadas a R$ 30 cada.
"Essa operação foi um voto de confiança dos investidores. A transação foi concluída em um momento delicado, porque houve choque sobre a economia global com o coronavírus, com muita volatilidade nos mercados", disse o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco.
O secretário de Desestatização do Ministério da Economia, Salim Mattar, também esteve na B3 e afirmou que o dinheiro da venda de ações do BNDES poderá ser usado para reduzir dívida ou ser alocado em áreas sociais. Ele afirmou que o governo está transformando as participações do BNDES em empresas em caixa.
Mattar voltou a afirmar que, até 2021, o governo deve colocar à venda 17 estatais, entre elas a Casa da Moeda e os Correios.
O procedimento acelera o processo de privatização da Petrobras?
Josilmar Cordenonssi, economista, professor de Finanças da Universidade Presbiteriana Mackenzie, declarou para Sputnik Brasil que as ações do governo foram marcadas pelo pragmatismo.
Apesar de reconhecer que o ministro da Economia, Paulo Guedes, é a favor de privatizar todas as estatais, o especialista apontou que o governo está "fazendo caixa".
"O governo está precisando abater dívidas e a venda dessas ações pelo BNDES não compromete o controle acionario que o governo brasileiro tem sobre essas empresas. Não altera fundamentalmente o caráter estatal dessas empresas", explicou.
No entanto, a venda pelo BNDES não significaria o início do processo de privatização.
"A princípio não. Isso ainda está em aberto para a discussão. Eu acredito que isso não vai ser um movimento unilateral do poder Executivo. Isso vai ter que passar pela Câmara, para aprovar um programa de privatização bastante arrojado para a nossa cultura que é bastante estatista", acrescentou o economista.
Cordenonssi destacou que, apesar de uma equipe econômica liberal, o presidente não possui a mesma determinação e depende muito da opinião pública.
"O presidente Bolsonaro não tem uma posição definida. Na verdade ele está tendo uma visão bastante eleitoreira. Se a opinião pública for favorável à privatização, acho que ele se torna favorável. Se for ao contrário, não, ele não privatiza", afirmou o especialista, lembrando que as subsidiárias da Eletrobras, na lista do governo, ainda não foram privatizadas em função da resistência no Congresso.
O professor da Mackenzie elogiou a atual gestão da Petrobras, destacando que a empresa ainda pode aumentar sua produção e seus lucros. No entanto, "o petróleo não vai durar para sempre", segundo o entrevistado. Para ele, a "iminente" mudança na matriz energética global seria motivo para uma discussão pública sobre o futuro da estatal.
"O petróleo não vai ser valorizado sempre como hoje. Será que não seria a hora de privatizar a Petrobras? A Arábia Saudita já fez isso com a Aramco", ponderou o acadêmico.
Temos um problema
Por outro lado, o diretor da FUP – Federação Única dos Petroleiros - Deyvid Bacelar, demonstra muita mais preocupação com a venda das ações
Em conversa com Sputnik Brasil, o petroleiro destacou que o governo está abrindo mão de ações estratégicas. "São ações com direito a voto e vendidas num valor abaixo ao do mercado", reclama o sindicalista, apontando "prejuízo para união e para a população".
"Temos um problema. O BNDES perde controle que tinha e temos um problema de recompensa para aqueles que estão comprando as ações", destacou.
Para ele, "uma investigação deveria ser feita". Como no caso do ex-presidente da Petrobras, Pedro Parente, que "realizou jogos no mercado de valores".
"Não é apenas o BNDES. Por trás disso está o Governo Federal. O governo perde força no comando da Petrobras, abrindo espaço para acionistas minoritários que ganharão mais espaço na administração", alega Bacelar.
Mesmo que a Petrobras não faça parte da lista de privatizações do governo, o ativista acredita que o processo de venda da estatal não esteja distante.
"Infelizmente esse processo não está distante. Apesar da empresa não estar na lista de privatizações [...] a privatização da Petrobras já está acontecendo. Essa é mais uma jogada do governo Bolsonaro, que de nacionalista não tem nada, para privatizar essa empresa", alertou.